Cenas de infância: Patricia Durães e "A Noviça Rebelde" no Cine Palácio, do Rio
04/02/13 18:33Nesta seção do blog, Cenas de Infância, quero trazer depoimentos de adultos sobre filmes, seriados ou personagens do audiovisual que os marcaram quando crianças.
Inauguro o espaço com a educadora, distribuidora e exibidora Patricia Durães, grande incentivadora da produção infantil no Brasil, responsável pelos projetos Escola no Cinema e Clube do Professor, entre outros.
Vamos ao que nos conta Patricia:
Certamente “A Noviça Rebelde” (The Sound of Music, 1965), de Robert Wise, não foi o primeiro filme que vi na infância mas, sem sombra de dúvida, foi o filme que marcou o início da minha paixão pelo cinema.
Lembro claramente a sessão no Cine Palácio, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Aquele cinema dos anos 1920, imenso e belo, estava lotado. Lembro que sentei ao lado de minha irmã na escada do segundo mezanino, eu com oito anos e Raquel, com dez. Ficamos completamente arrebatadas pelas imagens iniciais. Era uma sensação de voo através das tomadas aéreas em plano aberto. Estar no local mais alto da sala fez toda a diferença. Nosso ponto de vista era de cima para baixo, como um mergulho no verde intenso das montanhas. Começava em um silêncio total e, pouco a pouco, o som do ambiente era captado até iniciar a orquestração e a canção de abertura.
As canções e as coreografias foram outro encantamento. Ficamos tão enlouquecidas que durante muitos meses criamos espetáculos com a criançada da vizinhança para cantar e dançar as músicas do filme — e como tinha criança no bairro onde morávamos!!!
Por causa das minhas aulas de balé, eu já tinha o costume de sair caminhando nas ruas imaginando a música e o cenário de um musical. Por muito tempo fui Maria cantando “I Have Confidence in Me”, saltando e batendo os meus pés de um lado e do outro como na coreografia da personagem.
Voltamos ao mesmo Cine Palácio para rever a história da família Von Trapp inúmeras vezes e, desde então, não perdíamos um musical em estreia. Esse foi meu gênero preferido na infância.
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Abaixo, o texto que escrevi para a Ilustrada sobre “A Noviça Rebelde”, na edição impressa de 26 de março de 2006, por ocasião do lançamento no Brasil, em DVD, de uma edição restaurada do filme.
“Noviça Rebelde” volta com pacote de extras
Recém-lançada no Brasil, edição especial restaurada celebra as quatro décadas do clássico dirigido por Robert Wise
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O norte-americano Robert Wise (1914-2005) montou “Cidadão Kane” (1941) e codirigiu “Amor, Sublime Amor” (1961). Qual foi o título recorrente de seus obituários? “Morre o diretor de ‘A Noviça Rebelde’.” E morreu quando se celebravam os 40 anos de lançamento do maior sucesso de bilheteria na história do musical, com edição especial em DVD, que sai agora no Brasil.
No primeiro disco, a versão restaurada do filme — que pode ser acompanhada por comentários de Wise, em uma das opções de áudio, e de Julie Andrews, Christopher Plummer e mais três atores, em outra. O segundo disco traz tanto material quanto o próprio longa-metragem (que dura quase três horas).
Tratamento caprichado para um fenômeno de popularidade, fruto da conjugação entre o argumento romântico — uma noviça vai trabalhar como governanta dos sete filhos de um viúvo e se apaixona por ele –, a lapidação do libreto original feita pelo roteirista Ernest Lehman (“Intriga Internacional”) e a trilha composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, com destaque para a canção-título, “The Sound of Music”.
A taxa de açúcar do filme já é elevada, mas seria ainda maior, conta Andrews, se ela, Plummer e Lehman não conspirassem juntos para suavizar o tom meloso da montagem da Broadway. A árvore genealógica do projeto, aliás, é reconstituída em detalhes. Houve uma jovem que foi cuidar de sete órfãos cantores e se casou com o pai deles. Sua história deu origem ao longa alemão “A Família Trapp” (1956).
As locações da versão americana, no entanto, foram na região de Salzburgo, o que incrementa ainda hoje o turismo — a mansão que serviu de cenário recebe 100 mil visitantes por ano. O som das caixas registradoras continua a se misturar com o som da música. Um dos depoimentos dos extras atribui a razão do sucesso à fórmula “The Rocky Horror Picture Show com Prozac”. Estava mesmo à frente do seu tempo.
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Assista ao (longo) trailer original do filme, de 1965:
E, aqui, o elenco — reunido 45 anos depois por um programa norte-americano de TV: