Diretora, produtor e elenco falam sobre "Tainá". O próximo será uma animação
09/02/13 01:24“Tainá – A Origem”, o terceiro longa-metragem protagonizado pela índia da Amazônia que se tornou um sucesso entre crianças (e também entre muitos pais), entrou em cartaz ontem, dia 8.
A Folhinha deste sábado — que sai dentro da Ilustrada — publica texto que escrevi sobre o filme (clique aqui para ler).
Já o site da Folhinha traz uma versão compacta das entrevistas em vídeo que fiz com a diretora do filme, Rosane Svartman, com os atores Wiranu Tembé, Igor Ozzy e Beatriz Noskoski, e com o preparador de elenco Claudio Barros.
Clique aqui para assistir ao vídeo.
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Para completar o pacote, leia abaixo entrevista que fiz no final de janeiro com o produtor Pedro Rovai, que planeja rodar em breve o quarto filme com a personagem Tainá. Desta vez, será um longa-metragem de animação em 3D, orçado em R$ 11 milhões.
Por que não temos no Brasil uma produção infantil (ou para a família) regular, capaz de disputar o mercado interno com os filmes estrangeiros e formar público para o cinema nacional?
O nicho ocupado pelo filme infantil no Brasil em 2012 foi de 30% a 35%. É um mercado extraordinário. Mas, nesses 30% ou 35%, os filmes brasileiros corresponderam a menos de 1%. Uma participação ínfima. Essa participação só foi maior na época de ouro dos Trapalhões e da Xuxa, que vinham da TV. Não tinha filme alternativo, dissonante, que abrisse novas perspectivas e caminhos. Era aquele rame-rame, muito apoiado em uma linguagem televisiva, em uma maneira televisiva de abordar cinema. Mas eram um sucesso. Houve filme dos Trapalhões que fez 6 milhões de espectadores. [Nota do blogueiro: “O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão”, de 1977, o maior êxito do grupo, teve bilheteria oficial de 5,7 milhões de espectadores.]
Deveria haver uma política de Estado. Nos países escandinavos, 25% da verba destinada ao cinema nos diferentes guichês vai para a produção do cinema infantil. Eles têm a clareza de que a formação de plateia é fundamental para a sobrevivência do cinema nacional. Aqui, você liga a TV e os desenhos são quase todos estrangeiros. Criou-se nos últimos anos uma cultura cruel, perversa, de que não há possibilidade senão a de ver determinados filmes. Fica difícil não ver “Madagascar”, “A Era do Gelo 4”. É um massacre, mas graças à competência deles. Temos uma deficiência muito grande.
Além de não termos um olhar especial, específico, para o cinema infantil, muito menos uma postura diferenciada do Estado, existe uma concorrência muito grande de custos. Imagine concorrer, por exemplo, com filmes de efeitos especiais. Dificilmente você vê um filme infantil sem esse apelo. E aí o Brasil não tem essa tecnologia, caríssima. E, se tivesse o dinheiro, não tem a técnica.
Por outro lado, você não tem a “expertise” sobre a mecânica do roteiro do filme infantil, do juvenil e do infanto-juvenil. O filme brasileiro tem a tendência de usar um tatibitati nos diálogos, como quando você encontra o vizinho com o bebê no colo e tenta conversar com ele. Mas o público infantil é o mais exigente de todos. Se crianças não gostam do que veem, levantam da poltrona e saem da sala para brincar no corredor, comprar pipoca, ir ao banheiro.
Você precisa ter elementos lúdicos, capazes de encantar. Aventura, brincadeira. Nos filmes americanos, a maioria dos diálogos é para os adultos. Os pais ficam deliciados com diálogos inteligentes. Outro dia ouvi em um filme infantil um personagem dizer “E agora, vamos ao plano B”. Criança não entende “plano B”, mas o pai gosta. A carpintaria do roteiro infantil é muito mais complexa, como a de um relógio suíço, com uma peça ligada à outra, e não pode falhar. Não é um cinema menor, é um cinema mais complicado.
E o cinema infantil é vital para a existência do próprio cinema. Eu me lembro de quando fui pela primeira vez ao cinema, para ver um filme com o Oscarito. Morri de rir e nunca mais deixei de ir ao cinema. É o caminho da criança seduzida pelo cinema. Você nunca mais deixa de ir ao cinema.
Qual a sua expectativa em relação ao desempenho de “Tainá – A Origem” nos cinemas?
A estimativa mais pessimista é de que fará 500 mil espectadores. A estimativa “conservadora otimista” é de 800 mil. A “realista, mas com certa esperança”, é de 1 milhão ou mais. O filme comporta esse público. É o mais atraente dos três, o melhor dos “Tainá”. A reação do público nas pré-estreias foi extraordinária. Nenhuma criança sai do cinema, elas ficam cantando a música do Carlinhos Brown.
Muitas mães choravam ao final das sessões. Chegavam até nós com crianças de 2, 3 anos, e diziam “estou orgulhosa, é o primeiro filme que o meu filho viu no cinema”. Mas bilheteria é jogo de roleta. Nunca se sabe. É preciso ter um pouco de sorte, com a meteorologia e as mães não-carnavalescas nos ajudando.
A saga de Tainá vai continuar?
Decidi partir para a animação em 3D. Temos um roteiro muito bem encaminhado. Os bichos e a Tainazinha já estão no “work in progress”, como muitos gostam de dizer. A base é muito boa. Como é que não tem filme brasileiro em 3D? Precisamos cumprir cota de tela e quase todos os cinemas dentro de alguns anos serão digitais.
Nosso orçamento é de R$ 11 milhões. [Nota do blogueiro: “Tainá – A Origem” custou cerca de R$ 10 milhões.] A história é muito bonita. É a história da Amazônia, com o deus da chuva sequestrado pelo deus do mal. E aí para de chover, começa a seca. A floresta verdejante começa a ficar amarela. Todos os animais estão desnorteados. O núcleo da Tainá vai tentar salvar a floresta.
Estamos muito avançados no roteiro. Muitos incidentes engraçados, pequenas subtramas. Estamos esperançosos com esse desenho. Se a gente acertar a mão e der um toque de originalidade, não fizer só o feijão com arroz, se tiver lirismo e poesia, teremos um produto internacional.