Por que Mônica ainda não foi para o cinema e a TV com a força dos quadrinhos?
22/02/13 18:18A Folhinha deste sábado, dia 23, homenageia os 50 anos da Mônica, que nasceu oficialmente em uma tira da Ilustrada, em 3 de março de 1963, mas que já havia aparecido um pouco antes no jornal.
Mauricio de Sousa, o criador da Mônica, participará neste sábado da “Roda da Folhinha”. O encontro está marcado para 16h, no auditório do MAM (Parque Ibirapuera), em São Paulo.
Mônica e Mauricio dispensam apresentações. A primeira é uma das personagens mais populares da cultura infanto-juvenil brasileira; o segundo, um cartunista-empreendedor de talento inquestionável.
A pergunta que não quer calar: por que Mônica e sua turma não foram capazes, no cinema e na TV, de repetir o sucesso dos quadrinhos?
Dos cinco longas-metragens com os personagens, que deveriam alavancar a chegada à TV, apenas três fizeram mais de 500 mil espectadores nos cinemas, de acordo com dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
“Aventuras da Turma da Mônica”, lançado em dezembro de 1982, teve 1.172.020 espectadores e ocupa a modestíssima posição 166 no ranking de filmes brasileiros mais vistos no período 1970-2011.
“A Turma da Mônica em A Princesa e o Robô”, lançado em janeiro de 1984, atraiu 616.457 espectadores e está na posição 353 do mesmo ranking.
“Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo”, lançado em fevereiro de 2007, teve público de 531.656 pessoas e chegou à posição 413 no ranking.
“As Novas Aventuras da Turma da Mônica” (1986) e “Mônica e a Sereia do Rio” (1987) — codirigido por Mauricio e por Walter Hugo Khouri, com a cantora Tetê Espíndola — não figuram no ranking por terem público inferior a 500 mil espectadores.
Para comparar infantil brasileiro com infantil brasileiro:
– “Os Trapalhões na Serra Pelada”, lançado em dezembro de 1982, junto com “Aventuras da Turma da Mônica”, teve 5.043.350 espectadores e ocupa a posição 10 no ranking.
– “O Trapalhão na Arca de Noé”, lançado em dezembro de 1983, pouco antes de “A Turma da Mônica em A Princesa e o Robô”, fez público de 2.181.017 e está na posição 77 do ranking.
Resultado da comparação, usando apenas esses quatro filmes que estrearam no mesmo período e disputaram o mesmo público: Trapalhões, 7,2 milhões de espectadores; Turma da Mônica, 1,8 milhão.
Além da obviedade de que os Trapalhões eram mais populares do que a Mônica, por conta da presença na TV e de um histórico consolidado de filmes para cinema, esses números demonstram como a animação brasileira teve (e ainda tem) sérias dificuldades para ocupar espaço no mercado doméstico, sob controle de superproduções norte-americanas, em especial.
Veja a explicação para o fenômeno dada no site oficial de Mauricio:
“(…) Chegou a década de 80 e a invasão dos desenhos animados japoneses.
Mauricio ainda não tinha desenhos para televisão. E perdeu mercados.
Resolveu enfrentar o desafio e abriu um estúdio de animação a Black & White com mais de 70 artistas realizando 8 longas-metragens. Estava se preparando para a volta aos mercados perdidos, mas não contava com as dificuldades políticas e econômicas do país. A inflação impedia projetos a longo prazo (como têm que ser as produções de filmes sofisticados como as animações), a bilheteria sem controle dos cinemas que fazia evaporar quase 100% da receita, e o pior: a lei de reserva de mercado da informática, que nos impedia o acesso à tecnologia de ponta necessária para a animação moderna.
Mauricio, então, parou com o desenho animado e concentrou-se somente nas histórias em quadrinhos e seu merchandising, até que a situação se normalizasse. O que está ocorrendo agora.”
A frase “está ocorrendo agora” se refere, principalmente, a um acordo de coprodução entre o Cartoon Network e a Mauricio de Sousa Produções, firmado em 2011 com o objetivo de realizar episódios com a Turma da Mônica para veiculação na TV. Os primeiros foram ao ar em setembro de 2012.
É sempre hora de recuperar o tempo perdido. Mas, se a Turma da Mônica ainda não foi capaz de encontrar o espaço que merece nos cinemas e na TV, imagine como sofrem os autores de personagens de animação com menor popularidade ou que são desconhecidos do público porque não vêm dos quadrinhos ou da literatura.
Para entender um pouco melhor por que o cinema infantil brasileiro deveria ser assunto de Estado, clique aqui para ler um post sobre uma reportagem que fiz a respeito desse tema e aqui também para saber o que Pedro Rovai, produtor da série “Tainá”, pensa do assunto.
E, para relaxar, assista a um clipe com a Turma da Mônica, “Como é bom ir ao cinema”: