"O Reino Gelado" recria em 3D a Rainha da Neve, de Andersen
23/02/13 21:09Mal teve início o ano, e dois longas-metragens fugiram à habitual dieta norte-americana de animação 3D nos cinemas: o espanhol “As Aventuras de Tadeo” (clique aqui para ler sobre os três prêmios Goya que o filme de Enrique Gato recebeu) e agora o russo “O Reino Gelado”, que estreou na última sexta-feira, dia 22.
É curioso notar como esses dois filmes respeitam algumas soluções consagradas pela animação dos EUA para estabelecer pontes em direção ao público infantil, como a presença de animais ao lado dos protagonistas. Não se trata apenas de um penduricalho; muitas vezes, a história caminha graças à ação dessas figuras — algumas falantes, outras não.
Cada um desses filmes oferece, no entanto, características muito particulares, na paisagem da história — “Tadeo” nos leva à cultura inca do Peru, enquanto “O Reino Gelado” imagina um planeta condenado ao frio eterno — e no desenvolvimento dos personagens.
A história de “Tadeo” é uma paródia às aventuras do arqueólogo Indiana Jones, herói interpretado por Harrison Ford nos filmes dirigidos por Steven Spielberg e produzidos por George Lucas.
Já o argumento de “O Reino Gelado” vem de um conto escrito pelo dinamarquês Hans-Christian Andersen (1805-1875), que empresta hoje seu nome ao mais importante prêmio da literatura infanto-juvenil (já conquistado pelas brasileiras Lygia Bojunga Nunes, em 1982, e Ana Maria Machado, em 2000).
A vilã de “O Reino Gelado” é a Rainha da Neve (o título internacional do filme em inglês, “The Snow Queen”, respeita o nome do conto). Por causa de seus caprichos, a Terra vive sob gelo. A única ameaça ao seu poder vem de um espelho mágico criado por Vegard, um mestre-vidreiro — que já foi devidamente congelado, em companhia de sua mulher.
O problema inicial, para a Rainha, é que Vegard deixou um herdeiro, e ele estaria com o tal espelho. Logo, é preciso localizá-lo e também congelá-lo. Com a ajuda de seu próprio espelho mágico, parecido com o da madrasta de “Branca de Neve”, a Rainha ordena que um troll atrapalhado vá em busca do menino, e aí começa a aventura.
Novo problema: Kai, o filho de Vegard, descobre que tem uma irmã, Gerda. E Gerda, embora seja um doce, é dura na queda, como descobrirá o troll, primeiro, e depois a própria Rainha — que, por sua vez, guarda um segredo a ser descoberto apenas no final da história.
Além do troll, que passa por metamorfoses, o elenco animal tem o reforço do ferret de Gerda. Como a dona, ele parece dócil e inofensivo, mas é melhor não provocar o bicho.
Bem costurada, com elementos mágicos que se integram à ação sem atropelos ou forçadas de barra, a trama de “O Reino Gelado” pode ser, para muitas crianças, uma sedutora porta de entrada ao universo de Andersen — que é bem diferente daquele de “A Era do Gelo”, por falar em frio, ou daquele de “Madagascar”, por falar em animais.
Para o cinema de animação brasileiro, “O Reino Gelado” pode ser também uma inspiração. O impressionante aspecto visual do filme é obra da produtora russa Wizart, fundada em 2007, informa o seu site oficial em inglês, por profissionais vindos da indústria de games e da área de tecnologia da informação.
O próximo projeto da Wizart, previsto para estrear em 2014, é “Sheep’n’Wolves”, sobre um lobo que um dia se vê transformado em uma ovelha, e então passa a observar o mundo de outra perspectiva.
Promete, não?
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A distribuidora Playarte distribuiu à imprensa o seguinte depoimento do codiretor Maxim Sveshnikov sobre a sua participação em “O Reino Gelado”:
“Quando eu comecei a escrever o roteiro, eu não podia nem imaginar que seria o diretor. Inicialmente, eu entrei no projeto como roteirista. A cada dia em que eu mergulhava no texto e ia digitando ferozmente no teclado, mais detalhes e elementos inspiradores tomavam conta da minha cabeça. Personagens ganharam vida e foram pintados com novas cores, enquanto detalhes da história e diálogos divertidos emergiram. A atmosfera desse universo fantástico, com sua magia e seus segredos, me cativou. E quando trabalhamos no primeiro conceito desse mundo congelado, mantido aprisionado pela terrível Rainha da Neve, eu literalmente imaginei Gerda no meio desses campos cobertos de neve. E foi aí que entendi que esta seria uma história que eu mesmo poderia tornar real. Queria tanto compartilhar esta jornada tocante na tela com o maior número possível de espectadores que acabei convencendo os produtores a me aceitarem como diretor. Quanto mais difícil é o projeto no começo, mais interessante vai ficar a história que você pode criar no fim.”
Assista ao trailer do filme: