Cenas de infância: Rubem Barros, Walt Disney e "Mogli, o Menino Lobo"
25/02/13 17:43Os clássicos em animação da Disney povoam as memórias de inúmeros espectadores que foram crianças nos últimos 70 anos. O jornalista Rubem Barros faz parte dessa turma.
Diretor editorial da Editora Segmento, que publica as revistas “Educação”, “Escola Pública” e “Língua Portuguesa”, e mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ele recorda no depoimento a seguir cenas de sua infância que foram protagonizadas por um dos mais populares personagens da Disney: Mogli, o Menino Lobo.
Vamos ao relato de Rubem:
Não sei muito bem o que é lembrança de época, ou o que é “memória inventada” ao longo do tempo. Mas “Mogli, o Menino Lobo” (The Jungle Book, 1967), lançado no Brasil no final de 1968, foi, sem dúvida, o primeiro filme que marcou minha infância. Dirigido por Wolfgang Reitherman, foi o último filme a ser produzido por Walt Disney, que não o viu finalizado, morrendo meses antes do lançamento. É baseado no livro de mesmo nome de Rudyard Kipling (1865-1936), autor britânico nascido em Bombaim, Índia.
Eu assisti a ele logo após seu lançamento, numa das antigas salas do Iguatemi, o primeiro shopping center brasileiro, inaugurado em 1966. Lembro dos largos corredores laterais da sala, onde circulavam freneticamente algumas crianças, entre as quais os primos e primas com quem fui ao filme, sob o olhar de minha mãe e uma tia.
Mas esse tumulto incômodo se apagou com as primeiras cenas. O mundo escuro e aparentemente inóspito se tornava minuto a minuto mais colorido e atraente na mescla das sensações de medo e desejo de aventura. A música alegre e cheia de suingue e metais das canções dos irmãos Richard e Robert Sherman, em especial aquelas das cenas do urso Balu e do rei dos macacos, Louis, provocou uma adesão total ao filme.
O clima anárquico catalisado na figura de Balu – fanfarrão, destemido e amoroso – fez com que um menino introspectivo, meio tímido, criasse uma grande identificação com aquela vida aventureira e maluca, fora dos limites da civilização. Tanto que até hoje não me conformo muito com o final…
* * *
Assista ao trailer da cópia restaurada de “Mogli”, lançada em DVD quando o filme completou 40 anos, em 2007:
Assisti ao filme “Jungle Book” de 1942, dirigido por Zoltan Korda, já adulto. Gostava muito da versão animada da Disney e do livro de Kipling, lido na tradução de José Bento Monteiro Lobato. A princípio o filme de 1942 me pareceu muito inferior quando notei que os realizadores não tiveram condições de gravar animais interagindo com humanos e fizeram a maior parte do filme só com a interação de Mogli e os homens da aldeia. Ao longo do filme, até Mogli desaparece da trama para dar lugar a uma busca por tesouro empreendida pelos mesquinhos homens da aldeia. Apesar disso o filme é envolvente e não compromete a visão de quem já leu o livro ou assistiu a versão animada. Ao contrário, o filme de 1942 conseguiu me surprender ao recontar a história do ponto de vista dos homens da aldeia e tratar da sua incapacidade de compreender Mogli e a floresta povoada por Balu e Baguera.