Na China de "Nenhum a Menos", crianças enfrentam dificuldades para estudar
02/03/13 07:00A Folhinha deste sábado traz reportagem sobre crianças brasileiras que estão aprendendo mandarim. Algumas delas têm aulas nos colégios onde estudam; outras cursam escolas de idiomas.
Não é fácil aprender mandarim — nem mesmo para crianças chinesas, muitas delas obrigadas a estudar em condições precárias.
Essa realidade é ilustrada pelo longa-metragem “Nenhum a Menos” (1999), que se inspirou em fatos verídicos para contar a história de uma menina de 13 anos que substitui o experiente professor de um vilarejo.
Insatisfeita com o salário oferecido, ela pede mais. O professor propõe lhe dar um bônus, desde que, ao voltar, ele constate que nenhum aluno abandonou a sala de aula — a evasão é um sério problema do sistema escolar chinês.
Começa então uma aventura que costuma ser inspiradora para todos os que trabalham com educação. Já estive em diversos debates sobre o filme com a participação de professores, e a reação média sempre foi muito positiva.
Ao ser lançado nos cinemas do Brasil, depois de obter o Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza e o prêmio do público na Mostra Internacional de São Paulo, “Nenhum a Menos” ganhou classificação indicativa 12 anos.
Mais tarde, para exibição na TV, a classificação virou livre. É uma ótima oportunidade para que as crianças conheçam uma realidade muito distante da nossa por meio da identificação com os personagens infantis e do relacionamento de toda a turma com a nova professora, quase da idade deles.
Disponível em DVD, “Nenhum a Menos” será exibido na próxima sexta-feira, dia 8, às 8h20, pelo canal pago Max.
Assista ao trailer do filme:
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O diretor de “Nenhum a Menos”, Zhang Yimou, 61 anos, é um dos cineastas chineses de maior prestígio em todo o mundo. “Sorgo Vermelho” (1987), “Lanternas Vermelhas” (1991), “A História de Qiu Ju” (1992) e “Herói” (2002) estão entre seus principais filmes.
Yimou foi também o responsável pela direção do espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 8 de agosto de 2008. Abaixo, o texto que escrevi na ocasião, publicado no dia seguinte pelo caderno Esporte da Folha:
Cerimônia merece o 1º ouro olímpico
Mais hollywoodiana do que a própria Hollywood, festa de abertura extrapola os limites da imaginação do cineasta Zhang Yimou
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim conhecia o terreno onde pisava quando anunciou, em abril de 2006, que o cineasta Zhang Yimou, 56, seria o diretor-geral das cerimônias de abertura e encerramento do evento.
Filmes de ação como “Herói” (2002), “O Clã das Adagas Voadoras” (2004) e “A Maldição da Flor Dourada” (2006), em que os personagens revogam a lei da gravidade, sugeriam que nem mesmo o céu seria limite para a imaginação de Yimou.
A escolha também levou em conta a identificação da obra do cineasta com valores históricos chineses. Além disso, ele é um mestre da luz e da cor, como demonstram “Sorgo Vermelho” (1987) e “Lanternas Vermelhas” (1991), entre outros.
Esse perfil o transformou em coordenador ideal (ou “comandante-em-chefe”) de uma vasta equipe de colaboradores, que inclui entre seus generais o coreógrafo Zhang Jigang e o compositor Chen Qigang, e da qual Steven Spielberg foi consultor.
A parte inicial da cerimônia de abertura foi concebida como um longa-metragem dividido em grandes seqüências, todas baseadas, como em um épico de ação, no conceito de integrar muita gente a muita tecnologia e movimento quase incessante.
Até a fase neorrealista de Yimou, de “Nenhum a Menos” e “O Caminho para Casa”, ambos de 1999, gerou ecos em momentos mais minimalistas da cerimônia, como os que envolveram crianças e fotos de sorrisos captados mundo afora.
A tônica dominante, no entanto, foi mais hollywoodiana do que a própria Hollywood poderia conceber – e basta lembrar quão opacas se tornaram, na comparação, as aberturas dos Jogos de Los Angeles, em 1984, e de Atlanta, em 1996.
Embora tenha sido oficialmente nomeado há pouco mais de dois anos, Yimou teve ao menos quatro anos para pensar no que vimos ontem. Ele já havia produzido oito minutos para a cerimônia de encerramento dos Jogos de Atenas e, desde então, estava engajado no projeto olímpico chinês.
Como um dedicado embaixador, realizou vídeos promocionais e divulgou o evento em diversos países. Foi também figura-chave na escolha das cinco propostas finalistas, selecionadas entre as 409 inscritas, para os shows de abertura e encerramento do evento esportivo.
Yimou havia dito que seu objetivo era conduzir a cerimônia de ontem em direção a um “momento inesquecível” – supostamente, o da tocha olímpica. Nesse aspecto, “fracassou”: o espetáculo gerou diversos outros picos, com imagens igualmente belíssimas.
O presidente do comitê organizador, Liu Qi, acreditava que o sucesso dos Jogos dependeria em boa medida da qualidade da cerimônia de abertura. Pois entregue-se uma medalha de ouro simbólica à equipe de Yimou, e aguardemos os novos recordes.