Raphael Rossatto, a voz de Guy, nasceu no circo, canta, dubla e atua
29/03/13 12:18A “Folhinha” deste sábado publica uma página sobre o longa de animação “Os Croods”, em cartaz no Brasil. Na versão dublada em português, o jovem e esperto Guy — que encanta a adolescente Eep e mexe com a rotina de sua família — ganha a voz de Raphael Rossatto, 25 anos.
A seguir, um bate-papo em que Raphael fala da experiência (ainda breve) como dublador, das origens circenses de sua família e de sua carreira como ator, cantor e instrumentista.
O trabalho de dublagem tem a ver com a busca de uma voz que se pareça com a original? Em “Os Croods”, por exemplo, a voz do Guy foi interpretada na versão original por Ryan Reynolds.
Tem a ver, sim. Principalmente quando é animação. E, dependendo do cliente, temos que fazer a voz mais parecida possível. No caso de “Os Croods”, precisei fazer um teste e a Fox [distribuidora do filme no Brasil] me escolheu, entre outras coisas, porque a voz era parecida.
O que você leva em conta para dublar um personagem de animação?
A gente vai muito pelo boneco, pelo que o boneco faz. Se ele pula, se ele grita ou bate a cabeça. O modo como ele age. Procuramos fazer os trejeitos dublando. A gente coloca tudo na voz, já que não tem o corpo. Em “Os Croods”, por exemplo, tem uma cena em que o Guy explica para a Eeep [dublada no original por Emma Stone e em português por Luisa Palomanes] que o mundo está acabando, e ele está todo agitado. A gente faz os mesmos movimentos no estúdio. É meio automático. Quando a gente vê, já está fazendo os gestos.
Do que mais gostou em fazer a voz do Guy?
O Guy inteiro foi um presentão. Ele é todo descolado. Essa coisa de ser um gênio, ter varias ideias, ser galanteador. De certa forma, ele é meio parecido comigo, por ser meio descolado.
Há quanto tempo você trabalha em dublagem?
Vou fazer três anos de dublagem. Ainda estou bem no início, mas tenho feito muitas coisas legais. “Enrolados” (2010) foi o meu primeiro trabalho de dublagem. Fiz o teste para dublar o Flynn [no original, voz de Zachary Levi], passei. A Disney tinha me escolhido, mas na dublagem temos o chamado “star talent” [pessoa famosa convidada para fazer a voz de um personagem e, assim, atrair público para o filme], e resolveram colocar o Luciano Huck para dublar o personagem. Como ele não canta, eu acabei gravando as canções.
E quais os trabalhos em dublagem de que mais gostou?
Destaco “Enrolados” porque foi um filme muito especial, que me possibilitou entrar na dublagem. “Espelho, Espelho Meu” (2012), em que dublei o Príncipe [papel de Armie Hammer] e que tinha sido até agora o meu maior trabalho. Mais recentemente, “Dezesseis Luas” (2013), em que fiz o protagonista, Ethan [papel de Alden Ehrenreich], e “Os Croods”.
Como você foi parar nessa área?
Conheci a dublagem há uns quatro anos. Antes, fui sendo ator sem querer. Sou de família circense. Nasci no circo e morei no circo até os meus 19 anos. Minha vida foi fazer cenas circenses, esquetes. Sou a sétima geração circense da família. Uma parte da família veio da Alemanha e outra parte da Itália. Eles já trabalhavam com circo lá. Meus antepassados se encontraram no Brasil, namoraram e deram origem à nossa familia daqui, os Rossatto.
Fui sendo ator sem querer por causa disso, mas sou cantor e instrumentista desde os 11 anos. A dublagem chegou porque eu trabalhava em eventos e festas, e me perguntavam se eu era dublador, por causa da voz. Resolvi procurar. Sabia por alto como era, mas não havia me aprofundado. Descobri um curso e acabei me apaixonando. Daí fui convidado por um professor para conhecer um estúdio e os contatos profissionais começaram.
Quais os seus próximos trabalhos?
Tenho um projeto da Disney que ainda não posso revelar. Deve ser para julho, mais ou menos. Estou com com uma série do Boomerang chamada “Pretty Little Liars”, em que eu faço a voz do professor Ezra [papel de Ian Harding]. Tem uma série do Netflix, “Hemlock Groove”, em que dublei o protagonista, Peter [papel de Landon Liboiron]. E tem muitas séries em que a gente acaba fazendo sempre um personagem pequeno aqui e outro ali. Estou trabalhando muito, graças a Deus. Não tenho do que reclamar. E em todas as áreas.
Tem a minha banda, Jack B. Conseguimos colocar uma música na trilha da “Malhação”, “Só Eu Sei”, e estamos fazendo shows. Estou tentando levar a banda para São Paulo quando a peça que estou fazendo no Rio [“Tudo por um Popstar”, adaptação musical do primeiro livro de Thalita Rebouças] começar a viajar. Estamos fazendo um sucesso bacana no Rio com a peça e a partir de abril ou maio devemos ir para São Paulo, e também viajar por outros estados.
O que você recomenda a alguém que queira se profissionalizar como dublador?
Primeiro, mesmo se a pessoa não for ator ou atriz, procurar um curso de dublagem e fazer uma aula para ver se consegue se adaptar. Não é fácil. Tem que pensar em várias coisas ao mesmo tempo: sincronismo, interpretação, leitura. Você lê na hora, dubla olhando a televisão. É bem rápido. Se gostar, investir. Procurar um curso em que possa obter o registro profissional. É uma área muito boa. Eu recomendo.