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Censura Livre

por Sérgio Rizzo

Perfil Sérgio Rizzo é jornalista, professor e crítico de cinema

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Cenas de infância: as matinês de Amir Labaki

Por srizzo
03/07/13 12:04

Jerry detona um concerto de Tom: lembranças de matinê

A Cinelândia paulistana ainda se localizava no Centro, em torno da Avenida São João, quando o crítico Amir Labaki era levado por um primo de seu pai a “tardes de folia cinematográfica”: as antigas matinês.

Criador e diretor do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, Amir associa, no texto abaixo, aquelas sessões de cinema a outro hábito regular de sua infância, a ida dominical à igreja.

Vamos ao saboroso relato de Amir:

* * *

Matinê. Era esta a classificação das primeiras sessões de cinema que frequentei. Muitas vezes eram antologias de desenho animado, preferencialmente com Tom & Jerry. Mas de vez em quando eis que aparecia na tela um homem de borracha, corpo e rosto mutantes e elásticos, de nome Jerry Lewis.

A Cinelândia paulistana ainda se localizava no Centro, em torno da ainda elegante Avenida São João, mas já começava a migrar para a Avenida Paulista. Um primo de meu pai costumava apanhar-nos, eu e meus irmãos, um mais velho, outro um pouco menor (a caçula era ainda muito pequena), em casa, na Bela Vista, ao menos um sábado por mês, para uma tarde de folia cinematográfica.

As caixinhas de Mentex e Frutas adquiridas na bomboniére começavam as delícias daquelas tardes. Drops Dulcora as substituiram alguns anos mais tarde. Pipoca e refrigerante não faziam ainda parte do cardápio.

De onde saíram esses dentes, Jerry?

Nenhum título se fixou na memória infantil. Apenas algumas imagens. Tom ao piano com Jerry perturbando-o durante uma tentativa de concerto. Um Jerry Lewis estranhamente dentuço.

Mais que momentos específicos, duas sensações logo se impuseram. A primeira é a do cinema como uma experiência de liturgia pagã. A imponência da ampla sala, a convivência social, o ritual da cortina que se abre, do escuro que se impõe e do facho de luz cruzando o espaço para iluminar a grande tela branca rimavam naquela alma mirim com outro hábito regular, o da ida dominical à Igreja, também numa sala gigantesca, com mosaicos e afrescos sobre o altar, o silêncio cumprindo a função da escuridão, uma narrativa mais ou menos fixa pelo roteiro de cada missa.

Décadas mais tarde, lendo uma entrevista de Martin Scorsese sobre sua infância, foi inevitável a identificação. Separada por 7.685 km e duas décadas, a mesma familiaridade partilhada pela alternância entre aqueles dois tipos de espetáculos, um lúdico, outro religioso. O “sentimento oceânico” definido por Freud como essencial às religiões também caracteriza a imersão social da experiência da sala de cinema.

Como Scorsese, cheguei a ser coroinha, mas jamais flertei com a ideia de abraçar o sacerdócio. A razão soterrou a fé ao me tornar adulto mas o outro hábito de garoto se impôs como profissão. Crítico de cinema, curador, cineasta eventual foram os papéis sociais assumidos com o passar do tempo por aquele infante espectador. Até hoje frequento um cinema como se fosse um templo.

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