Escola no Cinema, 20 anos em SP
25/09/13 09:00Criado e dirigido pelas educadoras Patricia Durães — que é também sócia de três circuitos de exibição, entre eles a rede Espaço Itaú — e Eliane Monteiro, o Projeto Escola no Cinema está completando 20 anos de atividades em São Paulo. (No Rio de Janeiro, ele teve início em 1985.)
Para comemorar, uma série de atrações gratuitas para crianças será realizada no próximo domingo, dia 29, das 11h às 13h30, no Espaço Itaú (rua Augusta, 1.470).
A Oficina Musical Colherim é a única atividade que exige retirada de ingresso (a partir de 10h do próprio domingo, com 100 vagas disponíveis). Crianças vão aprender a usar colheres como instrumento de percussão.
O DVD “Colherim” será exibido na sala 1. No saguão do cinema, sessão de autógrafos com Estevão Marques, Marina Pittier e Fê Sztok, autores do livro “Pão, Pão, Pão” (Ed. Melhoramentos). Paralelamente, o Grupo Triii fará um show com as músicas do livro.
Patricia Durães já colaborou com o blog, escrevendo um depoimento para a seção Cenas de Infância.
Fiz com ela uma entrevista sobre o Projeto Escola no Cinema e sua atuação nessa área para o volume I do caderno “Cine-Educação” (Via Gutenberg/Cinemateca Brasileira).
A seguir, a íntegra do bate-papo.
Por que o cinema ainda não ocupa nas escolas brasileiras o espaço que conquistou em outros países, como a França?
O problema está na formação dos professores. Eu fiz o antigo Normal em uma das melhores escolas do Rio de Janeiro na época, o Instituto Guanabara, e nunca fomos levadas ao cinema. Assisti a filmes didáticos, sobre doenças venéreas, educação sexual – temas da zona de conforto do professor de ciências. Havia muita literatura, li muito. Mas as outras linguagens artísticas eram utilizadas da pior espécie. Nunca fomos ao ao teatro, também. Não existia uma abordagem cultural no sentido de aprimoramento do ser humano. Interessavam apenas os instrumentos que você tinha para trabalhar. Aprender musiquinhas para cantar com os alunos, por exemplo. E o ensino de professores continua igual, mais de 30 anos depois. Sorte dos alunos que pegam um professor que seja amante do cinema. Seria maravilhoso ter uma escola de formação com uma disciplina de história do cinema.
O que você recomendaria para os cursos de formação de professores?
Que houvesse pelo menos uma vez por semana uma saída para ir ao cinema. Claro que é difícil, porque mexeria muito com a grade das outras disciplinas. Precisaria haver um trabalho integrado com todos os professores. Que fosse uma vez por mês, então. Já seriam oito por ano. Filmes diversos, e não os que tenham conteúdo óbvio pedagógico, os que falam de escola, professor, criança. Uma cartela cinematográfica variada, pensando a linguagem do cinema. Haveria filmes que despertam a sensibilidade, que abrem horizontes na cabeça do professor; obras de arte, experiências estéticas mais radicais; e que tenham um contexto histórico mais forte, documentários.
Ou seja, trabalhar todos os gêneros e estilos?
Sim, isso seria muito importante para uma formação no Ensino Médio. Em um curso universitário de pedagogia, nem se fale. Aí, seria preciso ter um cineclube dentro da faculdade, fazer promoção com cinemas, distribuir ingresso, provocar aquele fervor cultural. Não só cinema, mas também teatro, música. Para estimular ao máximo as pessoas. Conheci nos meus cinemas professores que há 15 anos não faziam um programa cultural. Que só lêem o que precisa ler para o trabalho, os livros técnicos. É preciso sair desse casulo, experimentar.
O que você sugere a um professor interessado em aperfeiçoar o seu olhar para o cinema?
A primeira coisa é compor repertório. Ver o que quer ver, da forma como quer ver, sem se preocupar se é bom ou ruim. Ver o que dá prazer. Ficou curioso para assistir, aquilo traz algum retorno, provoca algum diálogo? Vá fundo. E, paralelamente, busque outras coisas. Comece a ler, conhecer a história do cinema, entender a linguagem. Não precisa ser muito técnico. Quando falamos de linguagem cinematográfica, as pessoas levam aquele susto, como se fosse algo complicado. Que nada. Falamos todos de “close”, “travelling”, câmera objetiva e subjetiva. Já entendemos de linguagem cinematográfica sem se dar conta, só de assistir a filmes. Anos atrás, minha filha disse à artista plástica Tomie Ohtake que queria ser pintora. A Tomie respondeu: “Então, você pinte, pinte, pinte e pinte. Vá pintar”. Você quer entender de cinema, ter intimidade com ele? Então veja, veja, veja e veja filmes. Vá ao cinema. Ali você terá a experiência plena, as nuances. E existem os cursos livres, também. Se gosta mais de documentário, faça um sobre isso. Se gosta mais de filmes narrativos, faça um de roteiro.
Depois de um tempo…
O professor começa a levar isso para a escola! Na sala dos professores, diz para o colega: vai ver esse filme. Dali a pouco, tem dois, três falando sobre o mesmo filme. E os alunos entram nesse circuito, claro. Professor acaba sendo um referencial para a turma. “E aí, professor, o senhor viu o filme tal?” É por isso que passamos todo tipo de filme no Clube do Professor, inclusive comédias e aventuras para adolescentes. Os alunos vêem esses filmes, e vão perguntar para o professor se ele também viu.