Censura LivreCenas de infância – Censura Livre http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br por Sérgio Rizzo Mon, 02 Dec 2013 08:57:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mestres da comédia na sessão Cinepiano http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/#comments Wed, 30 Oct 2013 14:40:33 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=996 Continue lendo →]]>

“Vida de Cachorro”, na sessão Cinepiano

Tem melhor programa cultural para famílias do que os pais apresentarem aos filhos algo que na infância foi importante para eles também?

Comédias clássicas, por exemplo.

Elas funcionavam décadas atrás, com crianças e adultos, e continuam funcionando hoje, ao oferecer uma inocência que parece encantadora perto do atual padrão médio de humor, na TV e no próprio cinema, e ao se apoiar em piadas visuais.

Para quem concorda com o raciocínio, sugiro um programão: a sessão Cinepiano, criada pelo compositor e produtor musical Tony Berchmans. Em novembro, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agendou quatro apresentações.

Autor do livro “A Música do Filme – Tudo o que Você Gostaria de Saber sobre a Música de Cinema” (2006), Berchmans diz que teve a ideia de organizar a sessão em 2008, ao ver o pianista norte-americano Bob Mitchell (1912-2009) fazer o acompanhamento ao vivo de filmes silenciosos em um cinema de Los Angeles.

A sessão Cinepiano promove a mesma viagem no tempo: assistir a um filme como nossos avós, bisavós ou tataravós faziam. Na tela, as imagens. O som vem de um piano instalado na sala.

Em novembro, a seleção de Berchmans vai reunir Charles Chaplin (“Vida de Cachorro”, 1918), Buster Keaton (“Cops”, 1922) e a dupla Stan Laurel & Oliver Hardy, o Gordo e o Magro (“Um Grande Negócio”, 1929).

O calendário de apresentações, sempre gratuitas:

3/11, domingo, às 18h – Galeria Olido

7/11, quinta-feira, 20h – Centro Cultural da Penha

16/11, sábado, às 21h – Teatro Décio de Almeida Prado

23/11, sábado, às 19h – Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes

Na janela abaixo, só para aquecer e dar água na boca, Laurel e Hardy em “Um Grande Negócio”.

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Maísa Zakzuk, "Grease" e o fascínio dos musicais http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/14/maisa-zakzuk-grease-e-o-fascinio-dos-musicais/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/14/maisa-zakzuk-grease-e-o-fascinio-dos-musicais/#comments Mon, 14 Oct 2013 15:55:14 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=954 Continue lendo →]]>

Olivia Newton-John e John Travolta em “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”

O blog retoma a série “Cenas de Infância” com um depoimento caprichado de quem resolveu investigar para valer o baú das memórias: Maísa Zakzuk, diretora de TV e autora de livros infantojuvenis.

Seu extenso currículo na televisão inclui um clássico dos anos 1990: “X- Tudo” — que, lembra Maísa no texto abaixo, nasceu de um programa que ela via na infância (e eu também), o “Globinho”.

Além de falar sobre a importância de filmes e programas musicais na sua formação, ela diz algo que vale para todos nós: somos o que lembramos.

Vamos ao depoimento de Maísa:

“Acho que não tem nada da televisão e do cinema que tenha marcado tanto a minha infância ou a minha juventude”, pensei ao ser convidada para escrever sobre este tema pelo jornalista e amigo Sérgio Rizzo.

Enrolei muito para começar a rabiscar sobre o assunto, mas confesso que fiquei feliz com a quantidade de lembranças que puxei da cabeça.

Em princípio, queria falar da dificuldade que tenho em resgatar momentos da TV da época em que eu tinha nove, dez anos (1977, 1978). Não por falta de memória, mas não sei por qual motivo eu não era uma grande telespectadora-mirim. O que seria de rico repertório para uma radialista como eu!

Muito do material exibido nesta época fui acabar vendo como lição de casa da FAAP, onde cursei Rádio e TV, de 1986 a 1989: desenhos como “Corrida Maluca” e “Pica-Pau”, por exemplo.

Paula Saldanha, apresentadora do “Globinho”

Mas é claro que existia uma vida televisiva em casa. Do que se via, eu me lembro bem do programa “Globinho”, apresentado por Paula Saldanha, que foi fonte de inspiração para eu criar o programa de televisão “X-Tudo”, exibido na TV Cultura (1992-2000).

Dava muitas risadas com o programa “Os Trapalhões”, sonhava em participar do programa “Pulmann Jr.”, me emocionava com os personagens do “Vila Sésamo” e, sim, gostava muito dos seriados americanos: “Os Três Patetas”, “A Feiticeira” e “Jeannie É um Gênio” (que até hoje é minha paixão).

Esse resgate de cenas me fez procurar o que eu assistia com a minha irmã e meu irmão mais velhos. Meu irmão Amauri adorava os seriados “Kojak”, “CHIPs” e “Swat”, e minha irmã Milene adorava “As Panteras”. Tinha até me esquecido que a gente separava o que era programa “de menino” e o que era “de menina”.

Como eu era caçula, absorvi o gosto dos dois.

Do cinema, eu me lembro dos primeiros filmes que vi.

“Marcelino, Pão e Vinho” (1955), um filme triste a que assisti com a minha avó num cinema que se chamava Fiametta, no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Também teve a fase dos filmes dos Trapalhões, a que assistíamos em Santos, nas férias de janeiro, no Cine Indaiá. Desses filmes de férias, me lembro também de ter desistido na última hora de ver “Tubarão” (1975). (Nunca vi até hoje; me desculpe, Spielberg.)

Aí, veio a fase do filme musical “Grease” (1978), com John Travolta e Olivia Newton-John. Minha irmã assistiu sete vezes e eu quatro! Tínhamos o LP e brincávamos em casa, imitando o momento “Tell me more, tell me more”. Eu tocava essa música no piano e ela no violão. É bom ressaltar que onde havia música eu ficava hipnotizada.

Barbara Eden e Larry Hagman em “Jeannie É um Gênio”

Na adolescência, fui me apaixonando por programas musicais. Festivais de música como o da Globo, por exemplo, em que a canção “Escrito nas Estrelas” foi interpretada por Tetê Espíndola. Como eu torcia! Como eu cantava! Como eu me emocionava.

A música falava mais alto sempre. Programas de auditório como “Raul Gil”, “Perdidos na Noite” e “Clube do Bolinha”. Já com 16 anos de idade, tinha a minha banda profissional e a nossa “crooner”, Eneida Laís, se inscreveu no “Clube do Bolinha”, concurso de calouros apresentado por Edson Cury, na TV Bandeirantes. Claro que não perdi a oportunidade e semanalmente acompanhava nossa cantora na disputa.

Comecei a freqüentar a emissora de televisão, os estúdios, e não deu outra: nossa cantora venceu o concurso e eu decidi estudar Rádio e Televisão para “trabalhar com música na TV”.

Já formada, apesar de ter me especializado em programas educativos infantojuvenis, tive a oportunidade de dirigir programas e eventos musicais. Por isso, costumo dizer que sou grata ao Bolinha.

Hoje, sou o que eu assisti, o que eu li mas, também, sou o que eu lembro. Meus irmãos, infelizmente, não estão vivos para me ajudar a recordar esses momentos. Para contar um pouco dessas cenas, fiz perguntas para os meus pais, revi vídeos pelo YouTube, mexi nas minhas próprias lembranças que estavam apenas guardadas, mas não esquecidas.

“Tell me more!”

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"Corda Bamba" veio do fundo da memória http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/05/corda-bamba-veio-do-fundo-da-memoria/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/05/corda-bamba-veio-do-fundo-da-memoria/#respond Sat, 05 Oct 2013 10:00:36 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=925 Continue lendo →]]>

Gustavo Falcão, Bia Goldenstein e Georgiana Góes em “Corda Bamba”

“Corda Bamba – História de uma Menina Equilibrista”, o primeiro longa-metragem baseado na obra de Lygia Bojunga Nunes, estreia nos cinemas no próximo dia 11. Um presentão de Dia das Crianças.

A “Folhinha” deste sábado traz alguns textos que escrevi sobre o filme e sobre os livros de Lygia, uma das minhas escritoras favoritas. Clique aqui e também aqui para ler.

Abaixo, trechos das duas entrevistas que fiz na última segunda-feira — a primeira com o diretor do filme, Eduardo Goldenstein, e a segunda com a sua filha, Bia, que faz o papel principal do filme.

Eduardo Goldenstein

Quando você entrou em contato com a obra de Lygia Bojunga?

Na minha infância. Tinha uns 9, 10 anos de idade. Comecei a ler os livros na época em que ela estava lançando esses livros — “A Bolsa Amarela”, “A Casa da Madrinha”, “Os Colegas”, “Corda Bamba”, que eu li com 10 anos de idade. “Corda”, particularmente, exerceu um impacto muito forte, me marcou muito. Eu lembro que foi uma das leituras mais marcantes que fiz na minha infância porque, primeiro, ele propunha um tema muito diferente, que eu não estava acostumado a ler nos livros que eu lia até então. Um tema trágico: uma menina que não sabe o que aconteceu com os pais, perdeu a memória, tem que sair de casa, o circo, vai morar com a avó que mal conhece, e começa a sonhar, a recobrar a memória dela através do sonho. Aquilo me marcou muito, achei diferente de tudo o que havia lido.

E como chegou à ideia de filmar “Corda Bamba”?

Estava estudando um tema para fazer um longa e já havia rascunhado alguma coisa em relação ao circo. Tinha muita vontade de fazer um filme que se passasse no circo e tivesse alguma relação com esse universo. Um belo dia, estava assistindo a uma palestra sobre roteiro com uma roteirista holandesa que estava no Brasil, e me veio uma imagem na cabeca, do nada, uma imagem muito forte, a de uma menina andando na corda bamba no alto de um prédio. Foi a partir daí que o filme nasceu. Eu me lembrei que essa imagem vinha do livro. Não pensava nele havia mais de 30 anos. Tinha 40 quando essa ideia veio. Ele estava bem guardado lá no fundo da memória. No mesmo momento, pensei: “aquele livro vai dar um belo filme”. E aí foi quando começou o processo. Eu havia guardado comigo a primeira edição do livro, a que eu havia lido, o original dele. Abri para reler, rever os detalhes da história, e no que fechei o livro já tinha a certeza de que eu queria transformar aquela história em um longa.

É a primeira vez que um filme adapta uma história de Lygia Bojunga. Como foi a experiência de convencê-la a ceder os direitos?

Bia e Eduardo Goldenstein

Foi muito interessante. Hoje acho que construí com a Lygia uma relação de amizade. Na verdade, essa relação eu já tinha dentro de mim por conta de ser um leitor dela, admirava muito os livros dela. Eu me aproximei através de um e-mail que enviei a ela, me identificando primeiramente como um leitor. “Seus livros fizeram parte da minha formação”, disse. Falei do “Corda Bamba”, exatamente o que estou te contando, que a imagem veio à minha cabeca e que eu gostaria muito de transformá-lo num filme. E ela me respondeu quase que imediatamente, dizendo que era muito reticente em vender os direitos. Ela é muito ciosa da sua obra, não costuma ceder os direitos. Mas deixou a porta aberta para uma conversa. Marquei um encontro com ela, começamos a conversar, falei das minhas intenções, como é que eu pensava em adaptar. Tivemos alguns encontros, fui mostrando alguns tratamentos [versões] do roteiro, e ela realmente autorizou. Teve uma intuição: “vamos lá, vamos fazer”. Foi muito bacana, foi uma relação de amizade que a gente construiu. Não sei se outras pessoas tentaram, ela não comentou. Sei que realmente ela é reservada em relação aos direitos, e que algumas peças de teatro foram feitas a partir de livros dela, mas realmente cinema é a primeira vez.

Lygia participou das filmagens?

Não. Depois que partimos para a filmagem, os últimos tratamentos eu já não mostrei mais para ela, que só foi ver o filme pronto, porque também julguei necessário ter um afastamento. Isso é muito importante quando a gente adapta um livro, ainda mais quando você tem uma relação assim com o autor, você ter um afastamento para poder colocar a sua visão singular daquela obra porque senão a gente pode cair só em uma mera ilustração, uma repetição daquilo que já está no livro.

E como foi a reação da Lygia ao ver o filme?

Fizemos uma sessão na casa dela, ela chamou vários amigos. Todos gostaram muito, ficamos horas debatendo o filme. Ela gostou também, senti que ela gostou e que ao mesmo tempo ficou um pouco balançada de ver aqueles personagens que partiram da cabeça dela, da criação dela, sendo colocados na tela, ganhando uma imagem. Pra você ter uma ideia, ela não gosta nem de trabalhar com ilustração nos livros dela. Ela trabalha com pouquíssimas ilustrações, e trabalhava durante muitos anos apenas com uma ilustradora [Regina Yolanda]. Essa questão da imagem é muito forte para a Lygia. E ela vem acompanhando os passos do filme desde que ficou pronto, em festivais. Agora no lançamento, ela está o tempo todo querendo saber.

Depois da sessão na casa da Lygia você mexeu no filme?

Não mexi, não. É a versão final. Já mostrei a versão final. Até porque esse filme foi realizado graças ao edital do MinC [Ministério da Cultura] de baixo orçamento. Foi a primeira vez que esse edital premiou um filme infantojuvenil. É até um pouco difícil colocá-lo nessa prateleira do infantojuvenil. Foi uma pergunta que eu fiz para a Lygia. “Lygia, será que essa história é realmente infantojuvenil? É tão bonita, universal”. E ela falou: “Pois é, Eduardo, essas prateleiras são exigências do mercado, a gente sempre precisa rotular, mas para mim é uma história para todos, aberta, qualquer pessoa pode ler”.

Mas, como a gente tem essa questão de mercado, estou colocando como um filme para a família. Então foi a primeira vez que o edital premiou um filme dentro desse nicho. É um recurso pequeno. Eles dão R$ 1 milhão de prêmio e nós conseguimos captar mais R$ 400 mil aqui na Secretaria de Cultura do Rio. Ele custou R$ 1,4 milhão, o que para cinema não é muita coisa. É um filme que tem efeitos, a menina andando na corda, filmagem no circo, figuração. Trabalhei muito no roteiro para realmente escolher bem aquilo que eu queria que estivesse no filme. Não tem nenhuma cena que a gente filmou que não esteja no filme. A gente não tinha como desperdiçar a nossa munição.

O texto de Lygia é muito simples e, ao mesmo tempo, muito denso psicologicamente, com personagens cheios de contornos. Qual foi o seu princípio para adaptá-lo na forma de imagens?

Essa personagem de “Corda Bamba”, a Maria, no livro a gente está entrando no pensamento dela. No filme eu poderia ter o recurso de trabalhar com o “off” [os pensamentos ditos pela voz da personagem], mas achei que não era por aí. Então optei realmente por deixar tudo muito concentrado no olhar dela, na expressão dela. É uma personagem que praticamente não fala, e as coisas vão se passando diante dela, e ela vai penetrando naquele mundo do imaginário, dos sonhos. Eu tentei construir de maneira tal que o espectador possa ir entrando dentro do pensamento da Maria e possa ir montando junto com ela aquele quebracabeça da memória dela, os fragmentos que ela vai recuperando atrás de cada porta, que o espectador fique junto com ela até o final. Houve um trabalho de roteiro muito grande no sentido de buscar a essência do livro, e transpor aquilo para a imagem cinematográfica.

Bia, sua filha, interpreta Maria. Ela era a sua escolha desde o início do projeto?

Não era. Tenho um casal de filhos, um menino e uma menina. Quando eles eram menores, eu lia muito para eles antes de dormir. Sempre abria um livro, eles pediam, era um hábito que tínhamos em casa. Quando decidir adaptar o livro, eu li a história para eles. Bia tinha 9 anos na época e ficou muito encantada, queria que eu continuasse, não deixava parar. Ficou muito marcada. Senti que aquela história pegou nela, até por conta da faixa etária, ela tinha a mesma idade da personagem, que tem 10 anos. Eu falei que estava querendo adaptar para fazer um filme, e desde o início ela dizia “eu quero muito fazer a Maria”. O que, num primeiro momento, a gente acha que é um capricho de uma criança.

Eu logo recusei, “imagina, isso é um filme, minha filha, é uma coisa muito séria”. Mas ela já tinha uma experiência com teatro na escola, que trabalha muito a área de artes, é construtivista e muito ligada à criação artística, monta peças superelaboradas no final do ano. Enfim, eu estava lá procurando a personagem, a menina que iria ser a Maria. Tinha visto algumas meninas, não tinha encontrado. Já estava com o elenco adulto escolhido e fomos fazer uma primeira leitura de roteiro, na produtora. Foi um dia à noite. Minha esposa, como produtora do filme, também estava lá, e levou minha filha, não tinha com quem deixar em casa. “E aí, quem vai ler [as falas de] Maria?” E minha filha chegou. “Ela está aqui, pode ler. Vamos fazer a leitura.” E ela fez a leitura. Quando acabou, os outros atores viraram para mim e disseram: “Acho que a sua busca pela Maria terminou aqui, porque não tem como ser outra pessoa”. Foi uma coisa que partiu do elenco. De fato, ela leu com muita propriedade, se apropriou daquela personagem, agarrou aquilo.

Bia Goldenstein

Você estava com dez para 11 anos quando fez “Corda Bamba”, e agora está com 14. Quais as lembranças que guardou dessa experiência?

Eu me lembro dos amigos que eu encontrei durante as filmagens, me lembro da preparação, do livro, das lembranças que ele me causou, da forma como fez mudar o meu olhar para a vida, para dar mais valor a certas coisas, e me lembro muito também como aprendi a fazer cinema.

Antes você só havia feito teatro, certo?

Bia Goldenstein em “Corda Bamba”

Eu fazia teatro na escola, era uma coisa nada profissional. A gente adaptava muitas histórias, a gente tratava muito o tema do ano na escola. Eu me lembro de ter feito uma peça que era o Carlos Drummond de Andrade junto com o Julio Verne, e eu era um pensamento do Julio Verne, que era o primeiro avião dele e era também a namorada dele.

Você continua a estudar na mesma escola?

Sim, estou na mesma escola [Escola Sá Pereira, no Botafogo, Rio de Janeiro]. Vou me formar [no Ensino Fundamental] no ano que vem, estou no oitavo ano.

Passou por alguma outra experiência em teatro fora da escola ou em cinema?

Não. Só na escola, nada de fora. Fiquei com vontade de fazer, cheguei a receber um convite, se não me engano do Canal Brasil, mas eu ainda não faço nem aula de teatro porque eu não tenho tempo para isso.

Como você conheceu “Corda Bamba”?

Meu pai sempre lia para a gente, eu e meu irmão, antes de a gente dormir, no nosso quarto. E antes de “Corda Bamba” ele já tinha apresentado pra gente [de Lygia Bojunga] “A Bolsa Amarela”. Ele tinha lido e eu tinha gostado muito desse livro, muito mesmo. Depois de ele ler pra gente eu li, estava começando naquela época a ler livro grande sozinha, e aí em seguida eu pedi para ele ler outro [de Lygia], e ele leu esse, “Corda Bamba”. Acho que ele me marcou mais do que “A Bolsa Amarela” porque esse, o “Bolsa”, é divertido de ler e tal, mas o “Corda Bamba” me marcou porque é mais melancólico, sentimental, ele mudou o meu jeito de pensar.

O que você se lembra de ter sentido durante a leitura?

Eu me lembro vagamente que fiquei muito chateada, muito triste por ela [Maria, a personagem principal], mas ao mesmo tempo eu queria fazer alguma coisa para ajudar ela. Eu queria descobrir qual a maneira, eu queria continuar a ler o livro, mas ao mesmo tempo eu queria parar porque eu queria arranjar a minha maneira de melhorar isso para ela com medo do que iria acontecer depois.

Depois você leu mais algum livro da Lygia Bojunga?

Depois eu li acho que mais um que agora eu não lembro o nome. Gostei também.

E hoje, o que você gosta de ler?

Eu gosto de ler esses dramas românticos de adolescentes, mas agora estou lendo a serie do Percy Jackson.

E filmes?

Gosto de ver comédias românticas com as minhas amigas, mas também dramas. Gosto muito de ver filmes, mas tenho visto muitas séries de TV. Eu ia muito ao cinema, mas parei de ir um pouco, vejo mais em casa. É porque eu ia com minha mãe e meu irmão, e agora que eu comecei a sair com as minhas amigas a gente faz outro tipo de coisa.

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Cenas de infância: Marina Person e a magia do super-8 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/#respond Mon, 05 Aug 2013 14:21:12 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=736 Continue lendo →]]>

Stan Laurel e Oliver Hardy, o Magro e o Gordo

Para diversas gerações, a magia do cinema foi apresentada em casa por sessões de filmes em super-8. O cardápio eram curtas e trechos ou versões condensadas de longas, como lembra a cineasta Marina Person no depoimento abaixo.

Filha do diretor Luiz Sérgio Person (“São Paulo S/A”, “O Caso dos Irmãos Naves”), a quem homenageou com o afetuoso documentário “Person” (2007), ela conta como foi que descobriu, anos depois, que havia mais filme por trás daqueles pequenos (e inesquecíveis, como se percebe) rompantes de cinema.

Vamos ao relato de Marina:

Eu fui criança numa época em que não existia videocassete, DVD, imagine Netflix. Nada de Telecine, Canal Brasil, ou HBO… Na verdade, até os 7 anos, nem TV em casa eu tinha. Bem, isso a tecnologia já permitia, mas a minha escola não. Esclareço: eu estudei na Waldorf, a escola antroposófica, em meados dos anos 1970, e a regra era clara: televisão, açúcar branco e comida industrializada, nem pensar!

É, não tinha TV. Em compensação, o que tínhamos eram pequeninos rolos de filmes super-8 que meus pais projetavam com o maior orgulho do mundo. Eram trechos pequenos de filmes como “Mary Poppins”, “Alice no País das Maravilhas”, “O Gordo e o Magro”, Charlie Chaplin…

Julie Andrews em “Mary Poppins” (1964)

O super -8 tem rolos de tamanhos limitados e uma lâmpada muito sensível, que queima por nada. As dificuldades que vinham com todo o charme daquelas projeções me fizeram valorizar muito aqueles momentos. Era tanta coisa que tinha que dar certo! A lâmpada não podia estar queimada, os rolinhos não podiam descarrilhar, a luz elétrica não podia faltar.

Luz elétrica? Ah, sim, me esqueci de contar esse detalhe: quando eu e minha irmã nascemos, meus pais concretizaram o sonho de viver no campo, perto da natureza, e nós nos mudamos para um sítio em Itapecerica da Serra, a 40 quilômetros de São Paulo. Lá moramos até meus 11 anos. E nesse nosso pequeno paraíso a luz elétrica era um luxo que muitas vezes nos faltava. Era uma chuva aqui, um poste que o vento derrubou ali, uma sobrecarga no vizinho… Enfim, não foram poucas as noites em que dormimos sem eletricidade na casa.

Bem, onde eu estava mesmo? Ah, nos filminhos… Pois é, foi só quando cresci e o videocassette apareceu que descobri que aqueles trechos de super-8 tinham um começo e um fim! Na minha cabeça de criança, os filmes eram aquilo ali e pronto. Confesso que achava um pouco estranho, mas gostava de todo jeito. E gosto até hoje.

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Cenas de infância: as matinês de Amir Labaki http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/07/03/cenas-de-infancia-as-matines-de-amir-labaki/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/07/03/cenas-de-infancia-as-matines-de-amir-labaki/#respond Wed, 03 Jul 2013 15:04:13 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=700 Continue lendo →]]>

Jerry detona um concerto de Tom: lembranças de matinê

A Cinelândia paulistana ainda se localizava no Centro, em torno da Avenida São João, quando o crítico Amir Labaki era levado por um primo de seu pai a “tardes de folia cinematográfica”: as antigas matinês.

Criador e diretor do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, Amir associa, no texto abaixo, aquelas sessões de cinema a outro hábito regular de sua infância, a ida dominical à igreja.

Vamos ao saboroso relato de Amir:

* * *

Matinê. Era esta a classificação das primeiras sessões de cinema que frequentei. Muitas vezes eram antologias de desenho animado, preferencialmente com Tom & Jerry. Mas de vez em quando eis que aparecia na tela um homem de borracha, corpo e rosto mutantes e elásticos, de nome Jerry Lewis.

A Cinelândia paulistana ainda se localizava no Centro, em torno da ainda elegante Avenida São João, mas já começava a migrar para a Avenida Paulista. Um primo de meu pai costumava apanhar-nos, eu e meus irmãos, um mais velho, outro um pouco menor (a caçula era ainda muito pequena), em casa, na Bela Vista, ao menos um sábado por mês, para uma tarde de folia cinematográfica.

As caixinhas de Mentex e Frutas adquiridas na bomboniére começavam as delícias daquelas tardes. Drops Dulcora as substituiram alguns anos mais tarde. Pipoca e refrigerante não faziam ainda parte do cardápio.

De onde saíram esses dentes, Jerry?

Nenhum título se fixou na memória infantil. Apenas algumas imagens. Tom ao piano com Jerry perturbando-o durante uma tentativa de concerto. Um Jerry Lewis estranhamente dentuço.

Mais que momentos específicos, duas sensações logo se impuseram. A primeira é a do cinema como uma experiência de liturgia pagã. A imponência da ampla sala, a convivência social, o ritual da cortina que se abre, do escuro que se impõe e do facho de luz cruzando o espaço para iluminar a grande tela branca rimavam naquela alma mirim com outro hábito regular, o da ida dominical à Igreja, também numa sala gigantesca, com mosaicos e afrescos sobre o altar, o silêncio cumprindo a função da escuridão, uma narrativa mais ou menos fixa pelo roteiro de cada missa.

Décadas mais tarde, lendo uma entrevista de Martin Scorsese sobre sua infância, foi inevitável a identificação. Separada por 7.685 km e duas décadas, a mesma familiaridade partilhada pela alternância entre aqueles dois tipos de espetáculos, um lúdico, outro religioso. O “sentimento oceânico” definido por Freud como essencial às religiões também caracteriza a imersão social da experiência da sala de cinema.

Como Scorsese, cheguei a ser coroinha, mas jamais flertei com a ideia de abraçar o sacerdócio. A razão soterrou a fé ao me tornar adulto mas o outro hábito de garoto se impôs como profissão. Crítico de cinema, curador, cineasta eventual foram os papéis sociais assumidos com o passar do tempo por aquele infante espectador. Até hoje frequento um cinema como se fosse um templo.

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Pais e filhos: quando o cinema também era aula http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/21/pais-e-filhos-quando-o-cinema-tambem-era-aula/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/21/pais-e-filhos-quando-o-cinema-tambem-era-aula/#respond Tue, 21 May 2013 18:01:19 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=575 Continue lendo →]]> Ao “folhear” no computador o PDF com a tese de doutorado do ator e diretor de teatro André Carrico, não pude deixar de notar a dedicatória:

“À memoria de Osvaldo, meu pai, que me levou pela mão pela primeira vez ao cinema.  Era um filme dos Trapalhões.”

Já falei aqui sobre a tese de André (“Os Trapalhões no Reino da Academia: Revista, Rádio e Circo na Poética Trapalhônica”), defendida no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas, curioso por causa da dedicatória, pedi a ele — hoje com 38 anos, e pai de Guido, 2 anos, que ainda não foi ao cinema — um relato para a série Pais e Filhos do blog.

Abaixo, o texto saboroso que ele me enviou, cheio de vida, sobre a sua primeira sessão de cinema, aos 4 anos, em Campinas (SP), e a tradição de família que nasceu ali: férias se tornaram sinônimo de filme dos Trapalhões.

* * *

“É uma televisão gigante”, diziam meus irmãos mais velhos. Como eu nunca tinha visto uma sala de cinema na TV, imaginava que a tela cinematográfica fosse emoldurada por uma caixa de madeira com botões, um grande seletor de canais e encabeçada por chifres de antena, como era o tubo de imagens de casa. Minha primeira sessão foi aos quatro anos, levado por meu pai para assistir ao “Cinderelo Trapalhão” (1979). A tela era maior do que pensava, mas a experiência era diferente de tudo que já vira. Não era circo, não era teatro, nem televisão. Cinema era um encontro coletivo em que todo mundo ficava diante de uma placa de luz que mostrava o Didi, o Dedé, o Mussum e o Zacarias do tamanho que eles eram. Os carros, quando aceleravam, vinham para cima da gente, as rajadas de tiros atravessavam nossos ouvidos, a torta era arremessada na cara do “da poltrona”.

A partir daquele ano se tornaria tradição: férias era sinônimo de Trapalhões. Duas vezes por ano eu encontrava o grupo num dos nove cinemas de rua que havia em Campinas. Entrar no luxuoso saguão com a pipoca comprada no carrinho da rua, escolher entre dropes e balas de leite nos impecáveis mostruários das “bombonières”, eram a abertura de um ritual que só terminava com o baixar dos créditos e o acender das luzes. E cinema com meu pai também era aula, pois ele sempre tinha considerações sociais ou morais a respeito das fábulas daquele quarteto. Moleque gostava mesmo dos Trapalhões porque, ao contrário dos bobos heróis americanos, nossos geniais anti-heróis bebiam, fumavam, sacaneavam, corriam atrás de mulher…

Meu pai, minha mãe, meus irmãos também riam com a graça dos quatro palhaços. Afinal, eram malandros adultos envolvidos em problemas da vida adulta. Muito das agruras suburbanas dos trapalhões era familiar aos meus pais. E rir ao lado deles, no meio de uma multidão de risos, sentindo que eles também gostavam daquela palhaçadaria, me deixava seguro. E cedo me ensinou que o melhor remédio contra as maldades do mundo é a risada.

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Cenas de infância: Cristiano Burlan, Oliver Twist e o ratinho Fievel http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/09/cenas-de-infancia-cristiano-burlan-oliver-twist-e-o-ratinho-fievel/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/09/cenas-de-infancia-cristiano-burlan-oliver-twist-e-o-ratinho-fievel/#respond Thu, 09 May 2013 10:00:43 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=516 Continue lendo →]]> Os relatos da série Cenas de Infância, que venho recolhendo no blog, tratam em geral da primeira experiência de ir ao cinema. Um ou outro convidado se lembra, como ocorreu com Christian Petermann, de alguma sessão posterior.

É o caso também do cineasta e professor Cristiano Burlan, que conheceu o cinema em Porto Alegre, mas que viveu a primeira sessão inesquecível já em São Paulo, aos 11 anos.

Burlan ganhou, em abril, o prêmio de melhor longa-metragem brasileiro do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários com seu trabalho mais recente, “Mataram Meu Irmão”, que trabalha com memórias pessoais.

A seguir, Burlan fala sobre a importância de um ratinho russo em sua vida e em sua trajetória profissional.

“Fievel, Um Conto Americano” (1986), produção da Amblin de Steven Spielberg em parceria com a Universal

A primeira lembrança que tenho do cinema é muito antiga, ainda remete à minha infância em Porto Alegre sendo levado pela minha mãe e pelo meu pai para ver os filmes dos Trapalhões no Cine Leão. Um cinema à moda antiga, com colunas neoclássicas e o cheiro de pipoca impregnado no ar. Mas, naquele momento, ainda não tinha passado por uma experiência catártica.

A primeira grande emoção que tive dentro de uma sala de cinema foi aos 11 anos de idade, já morando em São Paulo.

Em 1985, mudamos de Porto Alegre para cá. Logo que chegamos fomos morar num bairro muito pobre em Osasco, chamado Olaria do Nino. Meu pai trabalhava como pedreiro, minha mãe era empregada doméstica. Casa muito simples e pequena, e o dinheiro sempre muito curto.

Um dia acordei e pedi à minha mãe dinheiro para ir ao cinema, mas disse para ela que gostaria muito de ir sozinho pela primeira vez. Ela me falou que não tinha o dinheiro naquele momento, mas que iria juntar e que no final do mês me daria. Aguardei ansiosamente.

Naquela época estava lendo um livro que me marcou profundamente, “Oliver Twist”, de Charles Dickens, cujo protagonista é um órfão. Um dos temas do romance é a delinquência provocada pelas condições precárias da sociedade inglesa na era vitoriana, no século 19.

E o filme que escolhi assistir foi “Fievel, Um Conto Americano” (An American Tail, 1986). Saí de Osasco sozinho, de ônibus, e fui até o Shopping Eldorado, em Pinheiros. Tinha 11 anos de idade na época e o ano era 1986. Lembro que, quando cheguei na bilheteria, todas as crianças estavam acompanhadas dos seus pais, o que me deixou um pouco triste. Mas não me abati, porque estava tomado por uma sensação incrível de liberdade. Estava me sentindo um adulto indo sozinho ao cinema.

Minha mãe tinha me dado o dinheiro certinho para a passagem, o ingresso, pipoca, refrigerante e um drops Dulcora.

Havia chegado o grande momento. Entrei na sala, as luzes se apagaram e a projeção começou. Nunca vou esquecer a sensação dúbia de medo por estar só e, ao mesmo tempo, de ter descoberto o lugar mais seguro do mundo para se estar durante a vida.

“Fievel, Um Conto Americano” se passa na Rússia, em 1885, quando a família de ratos russo-judaica Ratoskewitz decide imigrar para os EUA, à procura de uma vida melhor. Fartos dos ataques dos gatos, os Ratoskewitzes acreditam que seus predadores não existem no “novo mundo”. Durante a viagem de navio, o pequeno Fievel é levado por uma tempestade, sendo separado da família. Ao chegarem, acreditam que perderam Fievel para sempre.

Mas ele também consegue chegar a Nova York, dentro de uma garrafa, e é ajudado por um pombo francês chamado Henri. O pequeno ratinho parte em busca da sua família, e logo começa a descobrir a dura realidade desse “novo mundo”, onde afinal também existem gatos.

A impressão que tenho até hoje dessa experiência é que tudo o que passei pela minha vida e o que me tornei tem a ver um pouco com esses dois personagens, com Oliver Twist e com o ratinho Fievel. Passei mais tempo da minha vida dentro de uma sala de cinema do que fora dela e tenho uma certa resistência a perceber o mundo por um prisma da realidade. E, sempre que volto a esse momento catártico e epifânico da minha vida, me lembro de uma frase de Chaplin: “Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”.

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Muitos leem, mas eu primeiro ouvi "O Pequeno Príncipe" http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/27/muitos-leem-mas-eu-primeiro-ouvi-o-pequeno-principe/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/27/muitos-leem-mas-eu-primeiro-ouvi-o-pequeno-principe/#respond Sat, 27 Apr 2013 09:00:24 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=482 Continue lendo →]]>

A capa da “Folhinha” de hoje, com rascunho do Pequeno Príncipe feito por Antoine de Saint-Exupéry

A “Folhinha” deste sábado celebra os 70 anos de “O Pequeno Príncipe” com textos de Gabriela Romeu sobre o romance e também sobre a vida extraordinária de seu autor, o francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944).

Ao conversar sobre o livro com a jornalista Laura Mattos, editora da “Folhinha”, me lembrei de que ouvi “O Pequeno Príncipe” antes de o ler.

Devo isso à minha professora na quarta série, que costumava terminar a aula uns 15 minutos antes do sinal para ler, em capítulos diários, algum livro.

Um deles foi “O Pequeno Príncipe” — que, imagino, ela já conhecia de trás para a frente. Mesmo assim, sua leitura era emocionada.

Aguardávamos ansiosos a hora em que receberíamos a pílula do dia. E íamos para casa com vontade de ouvir mais.

Claro, ela chorou algumas vezes durante as manhãs de leitura de “O Pequeno Príncipe”. Nós, de ouvidos bem abertos, também.

Imagino que todos os que se tornaram leitores vorazes, como eu, tenham histórias parecidas para contar, de pais e professores que plantaram essa semente simplesmente porque foram capazes de mostrar  o quanto a leitura era importante para eles, e de sugerir que um mundo extraordinário se escondia nos livros.

E fico um pouco triste de imaginar também quantos pais e professores nunca fizeram isso com seus filhos e alunos.

Dona Therezinha, Colégio São Miguel Arcanjo, Vila Zelina (São Paulo), 1975. Se alguém aí souber dela, diga que eu ainda me lembro de tudo.

* * *

A versão mais popular de “O Pequeno Príncipe” no cinema foi lançada em 1974, em forma de musical e com direção do norte-americano Stanley Donen (codiretor, com Gene Kelly, de “Cantando na Chuva”).

Steven Warner na versão para cinema de 1974, dirigida por Stanley Donen

Steven Warner (que não seguiu carreira no cinema) interpreta o personagem-título. O dançarino, coreógrafo e diretor Bob Fosse (“Cabaret”, “O Show Deve Continuar”) faz a Serpente, e o comediante Gene Wilder, a Raposa.

Katia Machado, produtora de “Meu Pé de Laranja Lima”, contou aqui no blog, em um relato da série Cenas de Infância, por que esse filme lhe deixou marcas.

Existem diversas outras versões do livro para o cinema e para a TV. A primeira, em forma de telefilme, foi realizada na antiga Alemanha Ocidental em 1954.

Houve outras adaptações para a TV na Bélgica (em 1960), na Hungria (em 1963), na Áustria (em 1965), na antiga Alemanha Oriental (em 1966) e no Japão (em 1978). Em 1990, foram realizadas duas versões francesas e uma coprodução entre Alemanha Ocidental e Áustria.

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Cenas de infância: Christian Petermann e o primeiro contato imediato com Spielberg http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/25/cenas-de-infancia-christian-petermann-e-o-primeiro-contato-imediato-com-spielberg/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/25/cenas-de-infancia-christian-petermann-e-o-primeiro-contato-imediato-com-spielberg/#comments Thu, 25 Apr 2013 17:07:13 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=477 Continue lendo →]]> Jornalista e crítico de cinema há 27 anos, Christian Petermann começou a ir sozinho ao cinema no final da década de 1970. Naquela época, conheceu o seu primeiro Steven Spielberg, que ele nunca esqueceu: “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (Close Encounters of the Third Kind, 1977).

Colaborador do “Guia da Folha” entre 1998 e 2012, ele escreve hoje para a “Rolling Stone” e para a “Revista da Cultura”, além de trabalhar como curador do festival semestral Cine MuBE Vitrine Independente e como assessor da ONG CineMaterna. Está envolvido também com o Giffoni São Paulo Film Festival, voltado ao espectador adolescente.

No relato abaixo, Christian diz que uma sessão de “Contatos” mudou a sua vida como espectador por apresentá-lo ao potencial de convencimento e sedução do cinema.

* * *

No pôster do filme, a explicação para os três graus de “contato imediato” com vida extraterrestre: no primeiro, observa-se um OVNI; no segundo, tem-se uma evidência física; no terceiro, contato.

A minha cinefilia teve seu ponto de partida com a paixão que minha mãe alimentava pelo cinema clássico de Hollywood. Desde muito pequeno, lembro de ser levado a sessões regulares de todos os filmes dos Trapalhões e às estreias ou reprises Disney da temporada. Demonstrei imediato fascínio pelo universo do escurinho do cinema, a ponto de reagir emocionado ao ouvir, por exemplo, a trilha sonora do filme “Love Story” (1970) no ambiente da sala de cinema, esperando para assistir a algo “censura livre”. Desde cedo alimentei essa cinefilia e tive carta branca de, no final dos anos 1970, já começar a circular pelos cinemas mais próximos para tentar assistir a tudo que minha idade permitia.

Indo com essa sede ao pote, cheguei a assistir, aos 12 anos de idade, ao filme “A Árvore dos Tamancos” (1978), de Ermanno Olmi, sentindo a “seriedade” do filme, mas ainda me considerando, enquanto espectador, despreparado para a crueza visual e a lentidão narrativa da fita. Um ano antes, porém, surgiu aquele filme que pela primeira vez provocou inúmeras sessões de arrepios na minha pele, instantes de deslumbramento e a certeza de que era nesse mundo da Sétima Arte que eu queria mergulhar – não como um realizador, mas de fato como um crítico. Sou fã declarado de ficção científica, o gênero que faz meu lado espectador vibrar até hoje. Sou um “trekker” de acompanhar os episódios da série “Jornada nas Estrelas” (“Star Trek”) na telinha desde os meus oito, nove anos. Mas em 1977, muito mais do que aquele “Star Wars” original de George Lucas, foi o ano em que aconteceu “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, de Steven Spielberg.

Foi talvez o meu primeiro contato imediato pleno com a paixão que eu compartilharia/compartilho/compartilharei com o cinema. Lembro-me nitidamente de ter comprado em livro a novelização do filme antes de seu lançamento por aqui, leitura feita em férias numa colônia qualquer. Mas o dia em que, com o coração na boca, eu entrei na sala maior das duas que existiam no shopping Iguatemi para assistir às aventuras do garoto Barry Guiler (Cary Guffey) – sua visão de um OVNI, a montanha feita de purê de batata, a aventura extrema no clímax –, tive uma epifania. Fui muito ligado em ufologia na infância e na adolescência, mas não era apenas o fascínio por esse tema que explica o fascínio absurdo que o filme provocou em mim.

François Truffaut como o Lacombe de “Contatos Imediatos”

“Contatos” mudou minha vida enquanto espectador e, em decorrência, como futuro crítico. Assistindo ao filme, pressenti parte do potencial que o cinema tem em convencer e seduzir. Não estava assistindo apenas a um filme muito divertido ou a ótimas interpretações de atores, entre eles um diretor chamado François Truffaut, sobre quem já tinha lido, mas cujo primeiro contato real só viria a acontecer aos 17 anos assistindo a “De Repente num Domingo” (1983), seu último trabalho – para depois, com o tempo, passar a apreciar toda sua filmografia. O filme de Spielberg atestou pra mim a força de uma trilha sonora – as cinco notas “em contato” da trilha de John Williams fizeram parte de minha vida por anos. Nunca mais deixei de ouvir com atenção qualquer trilha sonora (ou ausência de).

E o primeiro Steven Spielberg a que se assiste em tela de cinema, ainda mais com 11 anos de idade, não se esquece jamais! Naquele mesmo ano, o clímax de “Star Wars” (quer dizer, então “Guerra nas Estrelas”), com a destruição da Estrela da Morte, até que foi muito legal! Mas não era nada que se comparasse (e se compare até hoje) com o final daquele primeiro contato imediato de/com Spielberg.

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Cenas de infância: Katia Machado e "O Pequeno Príncipe" na origem de "Meu Pé de Laranja Lima" http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/17/cenas-de-infancia-katia-machado-e-o-pequeno-principe-na-origem-de-meu-pe-de-laranja-lima/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/17/cenas-de-infancia-katia-machado-e-o-pequeno-principe-na-origem-de-meu-pe-de-laranja-lima/#respond Wed, 17 Apr 2013 22:46:12 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=454 Continue lendo →]]> A produtora Katia Machado viverá nesta sexta-feira um dia muito especial: chegará aos cinemas “Meu Pé de Laranja Lima”, a nova versão do romance de José Mauro de Vasconcelos, projeto que ela começou a desenvolver em 2005.

Mas, como Katia lembra no depoimento abaixo, a semente do filme foi plantada em sua cabeça (e em seu coração) muito antes que ela imaginasse se tornar uma profissional de cinema.

Vamos ao relato de Katia:

Steven Warner no papel-título de “O Pequeno Príncipe” (1974)

O Pequeno Príncipe” (The Little Prince, 1974), de Stanley Donen,  foi o primeiro filme que vi nos cinemas. Havia a poesia e o lúdico, havia o piloto de avião, o céu estrelado e o deserto – o imenso e belo deserto onde tudo era possível! Havia aquele menino lindo, que era também eu, e seus lindos textos.

Chorei com Gene Wilder e seus grandes olhos azuis interpretando  “Closer and Closer and Closer”, e fiquei encantada com a coreografia de Bob Fosse, que me levou a sair do balé clássico para o explorar o moderno. Vivi uma grande experiência sensorial e saí de lá amando os filmes, a fantasia e os livros. O que eu não podia imaginar, por ser tão criança, é que aquele filme teria uma repercussão forte na minha vida pessoal e profissional.

Certamente esse filme despertou em mim o criativo, “a curiosidade” pela imagem e bem mais tarde o entendimento de que a qualidade de um texto é incontornável para o sucesso de um filme, mesmo quando esse não é tão bem realizado.

Tenho na minha cinemateca muitos filmes adaptados de obras literárias com personagens infantis. São na maioria das vezes filmes muito poéticos. Quando montei a minha produtora lembrei-me que tínhamos o Zezé, do livro “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos. Uma criança , que se refugia nos seus sonhos e vai tecendo em torno de si e de nós uma teia protetora. Um personagem brasileiro com uma dimensão imaginativa excepcionalmente sensível.”

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