Censura LivrePais e filhos – Censura Livre http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br por Sérgio Rizzo Mon, 02 Dec 2013 08:57:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mestres da comédia na sessão Cinepiano http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/#comments Wed, 30 Oct 2013 14:40:33 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=996 Continue lendo →]]>

“Vida de Cachorro”, na sessão Cinepiano

Tem melhor programa cultural para famílias do que os pais apresentarem aos filhos algo que na infância foi importante para eles também?

Comédias clássicas, por exemplo.

Elas funcionavam décadas atrás, com crianças e adultos, e continuam funcionando hoje, ao oferecer uma inocência que parece encantadora perto do atual padrão médio de humor, na TV e no próprio cinema, e ao se apoiar em piadas visuais.

Para quem concorda com o raciocínio, sugiro um programão: a sessão Cinepiano, criada pelo compositor e produtor musical Tony Berchmans. Em novembro, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agendou quatro apresentações.

Autor do livro “A Música do Filme – Tudo o que Você Gostaria de Saber sobre a Música de Cinema” (2006), Berchmans diz que teve a ideia de organizar a sessão em 2008, ao ver o pianista norte-americano Bob Mitchell (1912-2009) fazer o acompanhamento ao vivo de filmes silenciosos em um cinema de Los Angeles.

A sessão Cinepiano promove a mesma viagem no tempo: assistir a um filme como nossos avós, bisavós ou tataravós faziam. Na tela, as imagens. O som vem de um piano instalado na sala.

Em novembro, a seleção de Berchmans vai reunir Charles Chaplin (“Vida de Cachorro”, 1918), Buster Keaton (“Cops”, 1922) e a dupla Stan Laurel & Oliver Hardy, o Gordo e o Magro (“Um Grande Negócio”, 1929).

O calendário de apresentações, sempre gratuitas:

3/11, domingo, às 18h – Galeria Olido

7/11, quinta-feira, 20h – Centro Cultural da Penha

16/11, sábado, às 21h – Teatro Décio de Almeida Prado

23/11, sábado, às 19h – Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes

Na janela abaixo, só para aquecer e dar água na boca, Laurel e Hardy em “Um Grande Negócio”.

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"Corda Bamba" veio do fundo da memória http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/05/corda-bamba-veio-do-fundo-da-memoria/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/05/corda-bamba-veio-do-fundo-da-memoria/#respond Sat, 05 Oct 2013 10:00:36 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=925 Continue lendo →]]>

Gustavo Falcão, Bia Goldenstein e Georgiana Góes em “Corda Bamba”

“Corda Bamba – História de uma Menina Equilibrista”, o primeiro longa-metragem baseado na obra de Lygia Bojunga Nunes, estreia nos cinemas no próximo dia 11. Um presentão de Dia das Crianças.

A “Folhinha” deste sábado traz alguns textos que escrevi sobre o filme e sobre os livros de Lygia, uma das minhas escritoras favoritas. Clique aqui e também aqui para ler.

Abaixo, trechos das duas entrevistas que fiz na última segunda-feira — a primeira com o diretor do filme, Eduardo Goldenstein, e a segunda com a sua filha, Bia, que faz o papel principal do filme.

Eduardo Goldenstein

Quando você entrou em contato com a obra de Lygia Bojunga?

Na minha infância. Tinha uns 9, 10 anos de idade. Comecei a ler os livros na época em que ela estava lançando esses livros — “A Bolsa Amarela”, “A Casa da Madrinha”, “Os Colegas”, “Corda Bamba”, que eu li com 10 anos de idade. “Corda”, particularmente, exerceu um impacto muito forte, me marcou muito. Eu lembro que foi uma das leituras mais marcantes que fiz na minha infância porque, primeiro, ele propunha um tema muito diferente, que eu não estava acostumado a ler nos livros que eu lia até então. Um tema trágico: uma menina que não sabe o que aconteceu com os pais, perdeu a memória, tem que sair de casa, o circo, vai morar com a avó que mal conhece, e começa a sonhar, a recobrar a memória dela através do sonho. Aquilo me marcou muito, achei diferente de tudo o que havia lido.

E como chegou à ideia de filmar “Corda Bamba”?

Estava estudando um tema para fazer um longa e já havia rascunhado alguma coisa em relação ao circo. Tinha muita vontade de fazer um filme que se passasse no circo e tivesse alguma relação com esse universo. Um belo dia, estava assistindo a uma palestra sobre roteiro com uma roteirista holandesa que estava no Brasil, e me veio uma imagem na cabeca, do nada, uma imagem muito forte, a de uma menina andando na corda bamba no alto de um prédio. Foi a partir daí que o filme nasceu. Eu me lembrei que essa imagem vinha do livro. Não pensava nele havia mais de 30 anos. Tinha 40 quando essa ideia veio. Ele estava bem guardado lá no fundo da memória. No mesmo momento, pensei: “aquele livro vai dar um belo filme”. E aí foi quando começou o processo. Eu havia guardado comigo a primeira edição do livro, a que eu havia lido, o original dele. Abri para reler, rever os detalhes da história, e no que fechei o livro já tinha a certeza de que eu queria transformar aquela história em um longa.

É a primeira vez que um filme adapta uma história de Lygia Bojunga. Como foi a experiência de convencê-la a ceder os direitos?

Bia e Eduardo Goldenstein

Foi muito interessante. Hoje acho que construí com a Lygia uma relação de amizade. Na verdade, essa relação eu já tinha dentro de mim por conta de ser um leitor dela, admirava muito os livros dela. Eu me aproximei através de um e-mail que enviei a ela, me identificando primeiramente como um leitor. “Seus livros fizeram parte da minha formação”, disse. Falei do “Corda Bamba”, exatamente o que estou te contando, que a imagem veio à minha cabeca e que eu gostaria muito de transformá-lo num filme. E ela me respondeu quase que imediatamente, dizendo que era muito reticente em vender os direitos. Ela é muito ciosa da sua obra, não costuma ceder os direitos. Mas deixou a porta aberta para uma conversa. Marquei um encontro com ela, começamos a conversar, falei das minhas intenções, como é que eu pensava em adaptar. Tivemos alguns encontros, fui mostrando alguns tratamentos [versões] do roteiro, e ela realmente autorizou. Teve uma intuição: “vamos lá, vamos fazer”. Foi muito bacana, foi uma relação de amizade que a gente construiu. Não sei se outras pessoas tentaram, ela não comentou. Sei que realmente ela é reservada em relação aos direitos, e que algumas peças de teatro foram feitas a partir de livros dela, mas realmente cinema é a primeira vez.

Lygia participou das filmagens?

Não. Depois que partimos para a filmagem, os últimos tratamentos eu já não mostrei mais para ela, que só foi ver o filme pronto, porque também julguei necessário ter um afastamento. Isso é muito importante quando a gente adapta um livro, ainda mais quando você tem uma relação assim com o autor, você ter um afastamento para poder colocar a sua visão singular daquela obra porque senão a gente pode cair só em uma mera ilustração, uma repetição daquilo que já está no livro.

E como foi a reação da Lygia ao ver o filme?

Fizemos uma sessão na casa dela, ela chamou vários amigos. Todos gostaram muito, ficamos horas debatendo o filme. Ela gostou também, senti que ela gostou e que ao mesmo tempo ficou um pouco balançada de ver aqueles personagens que partiram da cabeça dela, da criação dela, sendo colocados na tela, ganhando uma imagem. Pra você ter uma ideia, ela não gosta nem de trabalhar com ilustração nos livros dela. Ela trabalha com pouquíssimas ilustrações, e trabalhava durante muitos anos apenas com uma ilustradora [Regina Yolanda]. Essa questão da imagem é muito forte para a Lygia. E ela vem acompanhando os passos do filme desde que ficou pronto, em festivais. Agora no lançamento, ela está o tempo todo querendo saber.

Depois da sessão na casa da Lygia você mexeu no filme?

Não mexi, não. É a versão final. Já mostrei a versão final. Até porque esse filme foi realizado graças ao edital do MinC [Ministério da Cultura] de baixo orçamento. Foi a primeira vez que esse edital premiou um filme infantojuvenil. É até um pouco difícil colocá-lo nessa prateleira do infantojuvenil. Foi uma pergunta que eu fiz para a Lygia. “Lygia, será que essa história é realmente infantojuvenil? É tão bonita, universal”. E ela falou: “Pois é, Eduardo, essas prateleiras são exigências do mercado, a gente sempre precisa rotular, mas para mim é uma história para todos, aberta, qualquer pessoa pode ler”.

Mas, como a gente tem essa questão de mercado, estou colocando como um filme para a família. Então foi a primeira vez que o edital premiou um filme dentro desse nicho. É um recurso pequeno. Eles dão R$ 1 milhão de prêmio e nós conseguimos captar mais R$ 400 mil aqui na Secretaria de Cultura do Rio. Ele custou R$ 1,4 milhão, o que para cinema não é muita coisa. É um filme que tem efeitos, a menina andando na corda, filmagem no circo, figuração. Trabalhei muito no roteiro para realmente escolher bem aquilo que eu queria que estivesse no filme. Não tem nenhuma cena que a gente filmou que não esteja no filme. A gente não tinha como desperdiçar a nossa munição.

O texto de Lygia é muito simples e, ao mesmo tempo, muito denso psicologicamente, com personagens cheios de contornos. Qual foi o seu princípio para adaptá-lo na forma de imagens?

Essa personagem de “Corda Bamba”, a Maria, no livro a gente está entrando no pensamento dela. No filme eu poderia ter o recurso de trabalhar com o “off” [os pensamentos ditos pela voz da personagem], mas achei que não era por aí. Então optei realmente por deixar tudo muito concentrado no olhar dela, na expressão dela. É uma personagem que praticamente não fala, e as coisas vão se passando diante dela, e ela vai penetrando naquele mundo do imaginário, dos sonhos. Eu tentei construir de maneira tal que o espectador possa ir entrando dentro do pensamento da Maria e possa ir montando junto com ela aquele quebracabeça da memória dela, os fragmentos que ela vai recuperando atrás de cada porta, que o espectador fique junto com ela até o final. Houve um trabalho de roteiro muito grande no sentido de buscar a essência do livro, e transpor aquilo para a imagem cinematográfica.

Bia, sua filha, interpreta Maria. Ela era a sua escolha desde o início do projeto?

Não era. Tenho um casal de filhos, um menino e uma menina. Quando eles eram menores, eu lia muito para eles antes de dormir. Sempre abria um livro, eles pediam, era um hábito que tínhamos em casa. Quando decidir adaptar o livro, eu li a história para eles. Bia tinha 9 anos na época e ficou muito encantada, queria que eu continuasse, não deixava parar. Ficou muito marcada. Senti que aquela história pegou nela, até por conta da faixa etária, ela tinha a mesma idade da personagem, que tem 10 anos. Eu falei que estava querendo adaptar para fazer um filme, e desde o início ela dizia “eu quero muito fazer a Maria”. O que, num primeiro momento, a gente acha que é um capricho de uma criança.

Eu logo recusei, “imagina, isso é um filme, minha filha, é uma coisa muito séria”. Mas ela já tinha uma experiência com teatro na escola, que trabalha muito a área de artes, é construtivista e muito ligada à criação artística, monta peças superelaboradas no final do ano. Enfim, eu estava lá procurando a personagem, a menina que iria ser a Maria. Tinha visto algumas meninas, não tinha encontrado. Já estava com o elenco adulto escolhido e fomos fazer uma primeira leitura de roteiro, na produtora. Foi um dia à noite. Minha esposa, como produtora do filme, também estava lá, e levou minha filha, não tinha com quem deixar em casa. “E aí, quem vai ler [as falas de] Maria?” E minha filha chegou. “Ela está aqui, pode ler. Vamos fazer a leitura.” E ela fez a leitura. Quando acabou, os outros atores viraram para mim e disseram: “Acho que a sua busca pela Maria terminou aqui, porque não tem como ser outra pessoa”. Foi uma coisa que partiu do elenco. De fato, ela leu com muita propriedade, se apropriou daquela personagem, agarrou aquilo.

Bia Goldenstein

Você estava com dez para 11 anos quando fez “Corda Bamba”, e agora está com 14. Quais as lembranças que guardou dessa experiência?

Eu me lembro dos amigos que eu encontrei durante as filmagens, me lembro da preparação, do livro, das lembranças que ele me causou, da forma como fez mudar o meu olhar para a vida, para dar mais valor a certas coisas, e me lembro muito também como aprendi a fazer cinema.

Antes você só havia feito teatro, certo?

Bia Goldenstein em “Corda Bamba”

Eu fazia teatro na escola, era uma coisa nada profissional. A gente adaptava muitas histórias, a gente tratava muito o tema do ano na escola. Eu me lembro de ter feito uma peça que era o Carlos Drummond de Andrade junto com o Julio Verne, e eu era um pensamento do Julio Verne, que era o primeiro avião dele e era também a namorada dele.

Você continua a estudar na mesma escola?

Sim, estou na mesma escola [Escola Sá Pereira, no Botafogo, Rio de Janeiro]. Vou me formar [no Ensino Fundamental] no ano que vem, estou no oitavo ano.

Passou por alguma outra experiência em teatro fora da escola ou em cinema?

Não. Só na escola, nada de fora. Fiquei com vontade de fazer, cheguei a receber um convite, se não me engano do Canal Brasil, mas eu ainda não faço nem aula de teatro porque eu não tenho tempo para isso.

Como você conheceu “Corda Bamba”?

Meu pai sempre lia para a gente, eu e meu irmão, antes de a gente dormir, no nosso quarto. E antes de “Corda Bamba” ele já tinha apresentado pra gente [de Lygia Bojunga] “A Bolsa Amarela”. Ele tinha lido e eu tinha gostado muito desse livro, muito mesmo. Depois de ele ler pra gente eu li, estava começando naquela época a ler livro grande sozinha, e aí em seguida eu pedi para ele ler outro [de Lygia], e ele leu esse, “Corda Bamba”. Acho que ele me marcou mais do que “A Bolsa Amarela” porque esse, o “Bolsa”, é divertido de ler e tal, mas o “Corda Bamba” me marcou porque é mais melancólico, sentimental, ele mudou o meu jeito de pensar.

O que você se lembra de ter sentido durante a leitura?

Eu me lembro vagamente que fiquei muito chateada, muito triste por ela [Maria, a personagem principal], mas ao mesmo tempo eu queria fazer alguma coisa para ajudar ela. Eu queria descobrir qual a maneira, eu queria continuar a ler o livro, mas ao mesmo tempo eu queria parar porque eu queria arranjar a minha maneira de melhorar isso para ela com medo do que iria acontecer depois.

Depois você leu mais algum livro da Lygia Bojunga?

Depois eu li acho que mais um que agora eu não lembro o nome. Gostei também.

E hoje, o que você gosta de ler?

Eu gosto de ler esses dramas românticos de adolescentes, mas agora estou lendo a serie do Percy Jackson.

E filmes?

Gosto de ver comédias românticas com as minhas amigas, mas também dramas. Gosto muito de ver filmes, mas tenho visto muitas séries de TV. Eu ia muito ao cinema, mas parei de ir um pouco, vejo mais em casa. É porque eu ia com minha mãe e meu irmão, e agora que eu comecei a sair com as minhas amigas a gente faz outro tipo de coisa.

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Cenas de infância: Marina Person e a magia do super-8 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/#respond Mon, 05 Aug 2013 14:21:12 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=736 Continue lendo →]]>

Stan Laurel e Oliver Hardy, o Magro e o Gordo

Para diversas gerações, a magia do cinema foi apresentada em casa por sessões de filmes em super-8. O cardápio eram curtas e trechos ou versões condensadas de longas, como lembra a cineasta Marina Person no depoimento abaixo.

Filha do diretor Luiz Sérgio Person (“São Paulo S/A”, “O Caso dos Irmãos Naves”), a quem homenageou com o afetuoso documentário “Person” (2007), ela conta como foi que descobriu, anos depois, que havia mais filme por trás daqueles pequenos (e inesquecíveis, como se percebe) rompantes de cinema.

Vamos ao relato de Marina:

Eu fui criança numa época em que não existia videocassete, DVD, imagine Netflix. Nada de Telecine, Canal Brasil, ou HBO… Na verdade, até os 7 anos, nem TV em casa eu tinha. Bem, isso a tecnologia já permitia, mas a minha escola não. Esclareço: eu estudei na Waldorf, a escola antroposófica, em meados dos anos 1970, e a regra era clara: televisão, açúcar branco e comida industrializada, nem pensar!

É, não tinha TV. Em compensação, o que tínhamos eram pequeninos rolos de filmes super-8 que meus pais projetavam com o maior orgulho do mundo. Eram trechos pequenos de filmes como “Mary Poppins”, “Alice no País das Maravilhas”, “O Gordo e o Magro”, Charlie Chaplin…

Julie Andrews em “Mary Poppins” (1964)

O super -8 tem rolos de tamanhos limitados e uma lâmpada muito sensível, que queima por nada. As dificuldades que vinham com todo o charme daquelas projeções me fizeram valorizar muito aqueles momentos. Era tanta coisa que tinha que dar certo! A lâmpada não podia estar queimada, os rolinhos não podiam descarrilhar, a luz elétrica não podia faltar.

Luz elétrica? Ah, sim, me esqueci de contar esse detalhe: quando eu e minha irmã nascemos, meus pais concretizaram o sonho de viver no campo, perto da natureza, e nós nos mudamos para um sítio em Itapecerica da Serra, a 40 quilômetros de São Paulo. Lá moramos até meus 11 anos. E nesse nosso pequeno paraíso a luz elétrica era um luxo que muitas vezes nos faltava. Era uma chuva aqui, um poste que o vento derrubou ali, uma sobrecarga no vizinho… Enfim, não foram poucas as noites em que dormimos sem eletricidade na casa.

Bem, onde eu estava mesmo? Ah, nos filminhos… Pois é, foi só quando cresci e o videocassette apareceu que descobri que aqueles trechos de super-8 tinham um começo e um fim! Na minha cabeça de criança, os filmes eram aquilo ali e pronto. Confesso que achava um pouco estranho, mas gostava de todo jeito. E gosto até hoje.

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Pais e filhos: quando o cinema também era aula http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/21/pais-e-filhos-quando-o-cinema-tambem-era-aula/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/21/pais-e-filhos-quando-o-cinema-tambem-era-aula/#respond Tue, 21 May 2013 18:01:19 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=575 Continue lendo →]]> Ao “folhear” no computador o PDF com a tese de doutorado do ator e diretor de teatro André Carrico, não pude deixar de notar a dedicatória:

“À memoria de Osvaldo, meu pai, que me levou pela mão pela primeira vez ao cinema.  Era um filme dos Trapalhões.”

Já falei aqui sobre a tese de André (“Os Trapalhões no Reino da Academia: Revista, Rádio e Circo na Poética Trapalhônica”), defendida no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas, curioso por causa da dedicatória, pedi a ele — hoje com 38 anos, e pai de Guido, 2 anos, que ainda não foi ao cinema — um relato para a série Pais e Filhos do blog.

Abaixo, o texto saboroso que ele me enviou, cheio de vida, sobre a sua primeira sessão de cinema, aos 4 anos, em Campinas (SP), e a tradição de família que nasceu ali: férias se tornaram sinônimo de filme dos Trapalhões.

* * *

“É uma televisão gigante”, diziam meus irmãos mais velhos. Como eu nunca tinha visto uma sala de cinema na TV, imaginava que a tela cinematográfica fosse emoldurada por uma caixa de madeira com botões, um grande seletor de canais e encabeçada por chifres de antena, como era o tubo de imagens de casa. Minha primeira sessão foi aos quatro anos, levado por meu pai para assistir ao “Cinderelo Trapalhão” (1979). A tela era maior do que pensava, mas a experiência era diferente de tudo que já vira. Não era circo, não era teatro, nem televisão. Cinema era um encontro coletivo em que todo mundo ficava diante de uma placa de luz que mostrava o Didi, o Dedé, o Mussum e o Zacarias do tamanho que eles eram. Os carros, quando aceleravam, vinham para cima da gente, as rajadas de tiros atravessavam nossos ouvidos, a torta era arremessada na cara do “da poltrona”.

A partir daquele ano se tornaria tradição: férias era sinônimo de Trapalhões. Duas vezes por ano eu encontrava o grupo num dos nove cinemas de rua que havia em Campinas. Entrar no luxuoso saguão com a pipoca comprada no carrinho da rua, escolher entre dropes e balas de leite nos impecáveis mostruários das “bombonières”, eram a abertura de um ritual que só terminava com o baixar dos créditos e o acender das luzes. E cinema com meu pai também era aula, pois ele sempre tinha considerações sociais ou morais a respeito das fábulas daquele quarteto. Moleque gostava mesmo dos Trapalhões porque, ao contrário dos bobos heróis americanos, nossos geniais anti-heróis bebiam, fumavam, sacaneavam, corriam atrás de mulher…

Meu pai, minha mãe, meus irmãos também riam com a graça dos quatro palhaços. Afinal, eram malandros adultos envolvidos em problemas da vida adulta. Muito das agruras suburbanas dos trapalhões era familiar aos meus pais. E rir ao lado deles, no meio de uma multidão de risos, sentindo que eles também gostavam daquela palhaçadaria, me deixava seguro. E cedo me ensinou que o melhor remédio contra as maldades do mundo é a risada.

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Daniel Boaventura, "homem-folha" http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/18/daniel-boaventura-homem-folha/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/18/daniel-boaventura-homem-folha/#respond Sat, 18 May 2013 10:00:14 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=546 Continue lendo →]]> O general Ronin, um dos “homens-folha” da animação “Reino Escondido”, é dublado na versão brasileira pelo ator e cantor Daniel Boaventura, que completa 43 anos neste domingo.

No cinema, antes de fazer “Reino Escondido”, ele só havia participado de três filmes como ator (“3 Histórias da Bahia”, “Coisa de Mulher” e o ainda inédito “Odeio o Dia dos Namorados”) e dublado uma animação em “stop-motion”, o longa brasileiro “Minhocas”.

Abaixo, um bate-papo em que Daniel fala de dublagem (“você e o microfone no aquariozinho”) e da experiência incomum de ver pela primeira vez um trabalho seu com uma das filhas na poltrona ao lado.

Sua carreira em teatro e televisão é numerosa, mas você fez poucos trabalhos em cinema. Por quê?

Houve situações em que eu fui chamado para fazer filmes e estava em cartaz. O teatro musical ocupa muito tempo. Em 2006, por exemplo, eu gravava o “Malhação” e queríamos renovar para 2007, quando eu iria fazer “My Fair Lady” no teatro. Eu disse que só poderia assinar para “Malhação” se me deixassem livre nos três primeiros meses. Os ensaios para musicais tomam seis dias por semana, dez horas por dia, durante dois meses. É um tempo precioso para uma pessoa. Quando estava em “A Bela e a Fera”, cheguei a fazer oito sessões por semana. Trabalhava 28 dias por mês. Consome muito.

Se não houvesse esse problema, você gostaria de fazer mais cinema?

Gostaria muito. Em 2012 filmei “Odeio o Dia dos Namorados”, dirigido por Roberto Santucci, e que deve estrear em breve [o lançamento está programado para 7 de junho]. Gostei muito do processo. No ano passado, consegui fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Neste ano estou mais tranquilo, me dedicando, por enquanto, principalmente a shows.

Quando você começou a fazer dublagens para animações?

Antes de “Reino Escondido”, fiz “Minhocas” (Worms), a primeira animação brasileira de longa-metragem em “stop-motion”. Curiosamente, fiz primeiro a dublagem em inglês, em 2007. Só fui dublar em português no início desta semana. O filme deve ser lançado no fim do ano pela Fox [a estreia está programada para 20 de dezembro].

O general Ronin, personagem dublado por Daniel Boaventura em “Reino Escondido”

E “Reino Escondido”?

Eu estava fazendo “A Família Addams” no teatro quando o meu empresário me enviou um e-mail dizendo que tinha um convite. Fui ficando muito interessado pelo filme. Em primeiro lugar, por ser da produtora Blue Sky. Admiro muito o trabalho de Carlos Saldanha, embora este filme, especificamente, não seja dirigido por ele [Chris Wedge, diretor de “Robôs” e do primeiro “A Era do Gelo”, é quem assina “Reino Escondido”]. Depois, soube do personagem, o general Ronin. Achei interessante. Quando dublei, vi que ele ficou ainda mais interessante do que eu esperava. E não havia a necessidade de torná-lo engraçado. Era um herói “per se”, um líder, denso e intenso. No processo de dublagem, tive um primeiro momento que foi a gravação do trailer, dirigido pelo Guilherme Briggs. Homenzinhos verdes numa floresta! Fantástica surpresa. Na gravação para o filme, eu tinha um pouco de preconceito, tinha receio do “sync” [a sincronização do áudio com as imagens]. Mas fui dirigido pelo Manolo Rey, outro craque. Nos primeiros 20 ou 30 minutos já tinha a embocadura para o personagem, estava só me acostumando ao “sync”. O método de prestar atenção à música do diálogo foi a melhor coisa. Em uma hora estava craque. Era quase a sensação de jogar. Gravei tudo em cinco ou seis horas. Um dia no aquariozinho, como eu chamo o estúdio.

Você procurou se aproximar da interpretação de Colin Farrell, que faz Ronin na versão original?

Gostei muito do trabalho dele. Não tem como deixar de usar como referência. Você ouve a voz original enquanto dubla. Mas, se eu gosto, não acho que vou copiar. Em “My Fair Lady”, por exemplo, eu fiz o professor Higgins. Vi antes o filme com o Rex Harrison no papel. Talvez seja o maior trabalho dele. Que impressionante, que velocidade. “Como vou fazer isso em português?”, pensei. E as músicas, muito verborrágicas? Tinha músicas maravilhosas. A referência dele (Harrison) foi interessante não porque fosse copiar, mas porque acrescentaria. A voz do Colin Farrell é mais grave, areada. Cabia ir para essa textura. E notei que ele sabia jogar texto fora. Não empostava a voz ou nada desse tipo. Observei isso, e não copiei.

Você está acostumado a interagir com outros atores no palco e na TV. Não estranhou trabalhar sozinho no estúdio, gravando isoladamente as suas falas?

O pessoal que dublou o “Rio” me contou que só foi se ver na estreia do filme no Brasil. Não troquei palavra com o Murilo [Benício, que dubla Bomba, um pesquisador atrapalhado] em “Reino Escondido”. Fiquei no estúdio só com o diretor e o operador. O que me ajudou foi que estou acostumado a estúdio. Há seis anos encarei a carreira como cantor profissional, já gravei três CDs e um DVD. Eu me habituei a gravar em estúdio. A dublagem é um processo similar, você e o microfone no aquariozinho.

E qual foi a sua reação ao ver o filme inteiramente dublado, com o “encaixe” da sua voz no conjunto?

Tenho duas filhas, uma de 4 anos, Isabela, e outra de 10, Joana. A Joana é uma crítica de cinema nata. Quer sempre ficar até o final da sessão para ver os créditos, quem fez o quê. A Isabela naquele dia não pode, mas a Joana foi comigo ver “Reino Escondido”. Foi a primeira vez em que desfrutei um trabalho meu ao lado dela. Genial! Ela colada a mim, braço apertado. Muito engraçado, e muito especial. Foi um prazer inenarrável ver o conjunto, tudo se encaixando, sem contar a qualidade da imagem. Quando vi “A Era do Gelo”, fiquei pasmo desde a primeira cena com o realismo dos pelos do animal, com a expressão facial. O primeiro “take” de “Reino Escondido”, no meio do mato, me deu uma sensação parecida. O filme tem ação, humor, bons momentos dramáticos. Viajei, me diverti muito. Sei que sou suspeito, mas fiquei orgulhoso do trabalho.

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João Guilherme, o ator de "Meu Pé", acha que o filme deveria ser "livre" http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/12/joao-guilherme-o-ator-de-meu-pe-acha-que-o-filme-deveria-ser-livre/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/12/joao-guilherme-o-ator-de-meu-pe-acha-que-o-filme-deveria-ser-livre/#respond Fri, 12 Apr 2013 20:45:57 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=441 Continue lendo →]]> Conversei nesta sexta-feira à tarde com o ator João Guilherme Ávila, 11 anos, que interpreta o papel de Zezé na nova adaptação para cinema de “Meu Pé de Laranja Lima”.

Baseado no romance de José Mauro de Vasconcelos, o filme entrará em cartaz no próximo dia 19. A classificação indicativa é 10 anos.

João Guilherme Ávila, que interpreta Zezé em “Meu Pé de Laranja Lima”: para ele, o filme deveria ter classificação indicativa “livre”. (Foto: Camila Botelho)

Escrevi um artigo sobre “Meu Pé” na edição de abril da revista “Cult”, que está nas bancas. Ouvi a produtora e idealizadora do filme, Katia Machado. Segundo ela, quem vê o filme costuma ficar “tristemente feliz”.

É uma ótima maneira de definir a sensação provocada pela história, que se inspira na infância do próprio José Mauro (1920-1984).

Nesta semana, a equipe da “Folhinha” assistiu ao filme e lançou a pergunta: é para crianças? A colunista Clarice Reichstul, que escreve o blog “Cafuné”, contou o que sentiu ao ver o filme.

Perguntei ao João Guilherme o que ele acha disso, e a resposta veio na lata: “Para mim, o filme seria livre. É um filme feito com crianças, sobre a vida de uma criança. Não vejo nenhum problema.”

Quando ele começou a fazer “Meu Pé”, tinha 9 anos. Ou seja: pela classificação indicativa, o filme não seria adequado naquele momento para ele.

A entrevista com o João Guilherme sairá na “Folhinha” do dia 20. Voltarei ao filme aqui no blog também.

Para pais e educadores interessados por dúvidas como essa, se um determinado filme é para crianças ou não, sugiro conferir alguns dos depoimentos que tenho recolhido neste blog para as seções Cenas de Infância e Pais e Filhos.

Luiz Bolognesi e Selma Perez, por exemplo, contam episódios de família que ajudam a entender por que, quando se trata do que os filhos podem ou devem ver (e vivenciar), em cada cabeça mora uma sentença.

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Pais e filhos: de "A Viagem de Chihiro" a "Os Sete Samurais" http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/08/pais-e-filhos-de-a-viagem-de-chihiro-a-os-sete-samurais/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/04/08/pais-e-filhos-de-a-viagem-de-chihiro-a-os-sete-samurais/#comments Mon, 08 Apr 2013 18:19:41 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=427 Continue lendo →]]> Aos 2 anos, você quer sair do cinema, chorando, com medo do que acontece com os pais da protagonista do filme. Aos 12, você está pedindo um clássico japonês ao atendente da videolocadora.

O “você” dessa história é o palmeirense Guilherme, 12 anos, filho mais velho da jornalista, diretora, roteirista e montadora Selma Perez, 43.

Autora do livro de contos “Quem Dera Ter Tempo” (2011), Selma abre nesta quarta-feira, dia 10, às 18h, a instalação e exposição de fotos “Casa Vazia” no espaço Casa Pássaro (Rua Girassol, 174, São Paulo).

No relato abaixo, ela conta como apresentou o cinema ao Guilherme e como a tal magia da sala escura o assustou. Anos mais tarde, final feliz:

Pôster da animação japonesa “A Viagem de Chihiro” (2001), de Hayao Miyazaki

Adoro cinema! Mesmo em tempos de TV a cabo, Netflix, Youtube, Vimeo etc., continuo frequentando as salas de cinemas uma ou duas vezes por semana.  Claro que, quando meu primeiro filho nasceu, pensava no momento em que poderia dividir com ele a experiência da salona escura. Quando ele fez dois anos, “A Viagem de Chihiro” (2001) entrou em cartaz. A vontade que eu tinha de assistir ao filme e, ao mesmo tempo, o desejo de levá-lo pra conhecer aquele mundo encantado do cinema não me deixaram perceber que ainda era cedo. Ao menos para aquele tipo de filme. Ao menos para o meu filho Guilherme.

O fato é que, na época, talvez a ansiedade tenha sido maior e fomos eu, meu marido e Guilherme assistir a “Chihiro”. Ele estranhou o lugar, como a maioria das crianças, mas logo sossegou e começou a prestar atenção no filme. Não parecia gostar nem desgostar, até que os pais de Chihiro são transformados em grandes porcos ao comerem em uma das casas daquele mundo fantasmagórico, onde os seres humanos não eram benvindos. Ele começou a chorar e pediu pra sair do cinema. Saímos e ele disse que não gostou de ver os pais da menina virarem porcos. Nem a minha tentativa de explicar que no final eles voltariam a ser os pais novamente surtiu algum efeito. Ele não gostou e pronto!

Resolvemos então esperar algum tempo. Dois anos mais tarde, fomos assistir a “Procurando Nemo” (2003). A cena se repetiu, e assim que o pai se perdeu do filho, choradeira e pedido pra sair. Vendo tantas crianças menores do que ele na sala, ficou a sensação de que talvez Guilherme não fosse compartilhar do nosso gosto pelo cinema. Claro que não foi nada disso. Cada um tem uma sensação e uma relação bem diferente com o cinema. No caso do Gui, o tempo foi passando, e ele foi descobrindo as histórias que o atraem, foi desenvolvendo e refinando seu gosto pelos filmes – ficção e documentários. Enfim, ele foi descobrindo a magia do cinema a seu modo.

“Os Sete Samurais” (1954), de Akira Kurosawa

Hoje, aos 12 anos, já freqüenta os cinemas com os amigos e busca seus próprios filmes na videolocadora ou na internet. Da última vez que alugamos filmes, qual não foi minha surpresa quando Guilherme perguntou ao atendente se ele tinha “Os Sete Samurais” (1954). Vendo a idade do garoto ali na sua frente, o moço foi logo dizendo: “Mas isso é Kurosawa, garoto!” E Gui respondeu: “Eu sei, eu quero ver o original, porque acabei de assistir ‘Sete Homens e um Destino’, que é a refilmagem”. Assistimos em casa, todos juntos, ao filme de Kurosawa que, segundo Guilherme, é muito melhor do que as versões que vieram depois. E quem vai contestar? Gosto é gosto.

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Pais e filhos: como aprender com as crianças a acreditar em fadas http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/03/11/pais-e-filhos-como-aprender-com-as-criancas-a-acreditar-em-fadas/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/03/11/pais-e-filhos-como-aprender-com-as-criancas-a-acreditar-em-fadas/#respond Mon, 11 Mar 2013 18:02:04 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=308 Continue lendo →]]> Neste relato da seção Pais e filhos, Ana Carmen Palhares, 45 anos, conta alguns casos de cinema que envolvem suas duas filhas — Clara, 12, cursando o sexto ano, e Mariana, 9, no quarto ano.

Aluna de doutorado em Estudos Culturais na Universidade do Minho, em Braga (Portugal), Ana Carmen explica a seguir por que acreditar em fadas se tornou um elo para a família.

Vamos à sua crônica de descobertas cinematográficas:

Clara, Ana Carmen e Mariana: o castelo ao fundo parece de cinema, mas é o de Póvoa do Lanhoso, pertinho da casa das três em Braga (Portugal)

Adoro cinema, sempre adorei. A telona, o escurinho, a pipoca… A evolução sonora e dos efeitos especiais, então, foram uma grande viagem dos últimos tempos cinéfilos.

Quando minha filha mais velha nasceu, a Clarinha, hoje com 12 anos, era a vez de o Harry Potter, bruxinho lindo e meigo, encantar-me e, em seguida, à Clarinha. Minha filhota era uma admiradora do pequeno bruxo e seus amigos, e da magia de Hogwarts. Seu sonho era ir à Inglaterra e conhecer o Harry. Colecionava cadernos, agendas, lápis e tudo o que era possível.

Ainda muito pequena começou a frequentar as salas de cinema e acompanhar as aventuras daquele menino inglês. No terceiro filme, “Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban” (2004), uma surpresa. O filme, muito dark, trazia à cena dementadores, lobisomem e um enorme cão negro com um brilho assustador no olhar. Pobre Clara, ficou assustadíssima, e até a pequena Mariana, que já acompanhava suas aventuras, gritou na sala do cinema.

Superado o medo, as crianças crescem e a magia de Harry ainda continua envolvente.

Emma Watson (Hermione), Rupert Grint (Ron) e Daniel Radcliffe (Harry) em “O Prisioneiro de Azkaban”: dementadores, lobisomem e um cão com brilho assustador no olhar

Mas nem só de telonas vivem os filmes e as aventuras das crianças. A telinha de casa também faz muito bem. O sofá, as almofadas, as crianças ao redor e um bom prato de brigadeiro. Perfeito.

Ainda da mágica Inglaterra, chega-nos o Peter Pan, menino lindo, de cabelos revoltos e que não queria deixar de ser criança. Outra paixão. Dessa vez foi a Mariana, agora com 9 anos, que se encantou pelo menino que voava e suas aventuras.

Estavam reunidos na casa da vovó, as netinhas e o priminho. Mariana com 3 anos, Clara com 6 e Gabriel com 9. A casa estava cheia. O filme continha magia e romance. Crianças a voar, piratas malvados, garotos perdidos, Peter, Wendy, Sininho… Aquele amor infantil, os sonhos. Ao final do filme o malvado Capitão Gancho prende a doce fadinha e Peter perde seus poderes. A sala emudece. A Sininho a sofrer, a perder sua força vital. As pessoas não mais acreditavam na magia das fadas. Que angústia! De repente alguém diz:

— Eu acredito em fadas, acredito!

E assim a Sininho foi recuperando as suas forças e as crianças encantadas voltavam a ter o seu poder. Na sala a garotada sorria, feliz e satisfeita com a força da magia do bem.

E foi aquela gritaria, Mariana, então com cerca de 3 anos, Clara, Gabriel… A casa inteira gritava e pulava com entusiasmo.

— Eu acredito em fadas, acredito! Acredito! Acredito!

Naquela noite, antes de dormir, Mariana me perguntou se eu acreditava em fadas. Com toda sinceridade respondi que sim. Como não acreditar num ser tão mágico que é capaz de trazer o sorriso de volta aos lábios de minhas filhas? E até hoje, quando queremos nos referir ao poder da magia e do encantamento, olho para elas e digo:

— Eu acredito em fadas, acredito, acredito!

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Pais e filhos: como fazer uma criança de 7 anos se apaixonar por Darth Vader http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/02/28/pais-e-filhos-como-fazer-uma-crianca-de-7-anos-se-apaixonar-por-darth-vader/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/02/28/pais-e-filhos-como-fazer-uma-crianca-de-7-anos-se-apaixonar-por-darth-vader/#comments Thu, 28 Feb 2013 11:00:58 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=235 Continue lendo →]]> Inauguro hoje mais uma seção regular do blog: Pais e Filhos, com depoimentos sobre a paixão pelo cinema aproximando gerações.

Se tiver histórias de sua família para contar e quiser dividi-las com os leitores, fique à vontade para me escrever.

Começo com o depoimento de Luciano Guimarães, 36 anos, que mora em São Paulo. Ele é pai de Lorenzo, 7 anos, que está na 3a. série do ensino fundamental, e de Lola, 4 anos, que está no 5o. ano da educação infantil:

Luciano, com os filhos Lorenzo e Lola, e a coleção de bonecos das crianças: só personagens de cinema

Tive o privilégio de nascer e crescer em Santos, que sempre teve uma grande tradição de cinemas de rua. Como eu me lembro de quase todos os filmes que meu pai me levou para ver com ele, sempre tentei influenciar o Lorenzo a gostar de cinema. É meu programa preferido, e consegui fazer com que seja o dele também.

A segunda parte da influência positiva foi tentar fazer o meu filho reviver momentos inesquecíveis que eu tive com meu pai e tentar fazer das minhas lembranças da infância uma lembrança para ele também.

Depois de ter visto mais de mil vezes todos os filmes da Pixar, da Dreamworks etc., decidi recorrer à minha memória afetiva e relembrar filmes que ficaram na minha imaginação.

O primeiro que apresentei ao meu filho foi “História sem Fim” (1984). Foi impressionante ver que, apesar de não ter nenhum efeito especial muito mirabolante, a emoção foi a mesma. Depois vieram “Os Goonies” (1985), “Karatê Kid” (1984), “O Cristal Encantado” (1982) e outros.

Darth Vader em uma conversinha com a princesa Leia (Carrie Fisher) no episódio IV de “Star Wars”

O mais difícil para mim foi escolher como apresentar a ele um dos meus preferidos, a série “Star Wars”. Depois de muito pensar, preferi introduzi-lo a esse mundo da mesma forma que eu o conheci.

Comecei pelo Episódio IV [o primeiro longa-metragem, de 1977] e logo de cara ele se apaixonou. Hoje, vemos juntos reprises de “Star Wars” com muita pipoca. É engraçado ver um filme, depois de décadas, ainda encantar uma criança de 7 anos. A mochila e os estojos do Lorenzo são do Darth Vader.

O mais impressionante é que, no período de uma hora, meu filho é capaz de jogar vinte jogos diferentes no iPad e não ficar parado para nada. Mas, quando eu coloco um filme bom, ele fica comigo até acabar. Isso é prova de que filmes infantis não precisam ser feitos por computadores, nem ter muitos efeitos especiais. Quando são bons, transcendem a idade e são imortais.

Hoje, meu filho decora as datas de lançamento dos filmes nos trailers e me cobra para levá-lo no dia da estréia. Nesta semana ele foi ver “O Reino Gelado” e já está esperando “Oz – Mágico e Poderoso”. Todo mundo que sai com ele para passear sempre inclui um cineminha.

Com a Lola foi a mesma coisa, só que mais cedo. Por ser a irmã mais nova, tinha que acompanhar o irmão nos passeios dele. Com isso, acabou indo ao cinema desde bebezinha (e não dormia, assistia ao filme).

Em casa, a programação que eles mais adoram a gente chama de “sessão”. Eu escolho um “filme-surpresa”, estouro uma pipoca e é diversão (sem bagunça) por uma hora e meia.

Uma das primeiras palavras que a Lola aprendeu foi “Potter”, por causa de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (2001), que o Lorenzo ficava vendo o dia todo!

O legal é notar que eles aceitam programas de qualidade. É só oferecer. Em alguns horários de manhã, troquei desenhos na TV bem bobos por alguns documentários da HBO ou do National Geographic, que falam de natureza, e eles adoram.

O importante é dedicar tempo para eles, porque eles aprendem a gostar de cinema observando a gente. Então, não adianta colocar um filme e fazer outra coisa. Para que as crianças gostem de filmes, temos que assistir juntos, mesmo que 30 vezes, o mesmo filme.

* * *

Por falar em “Star Wars”, a edição de março da revista norte-americana “Wired” publica reportagem de capa sobre o retorno da saga criada por George Lucas, agora sob o manto da Disney, que comprou a Lucasfilm.

O primeiro longa da nova série, o Episódio VII, está previsto para 2015.

Clique aqui para ler a reportagem da “Wired” e divirta-se, no vídeo abaixo, com uma visita de Darth Vader ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro:

[There is a video that cannot be displayed in this feed. Visit the blog entry to see the video.]

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