Oito salas da cidade que Woody Allen nos ensinou a admirar estão ocupadas, desde a última sexta-feira e até o próximo dia 24, pela programação do New York International Children’s Film Festival, um dos mais importantes festivais de cinema infantil do mundo, já em sua 16a. edição.
Cena do japonês “From Up un Poppy Hill”, de Goro Miyazaki, que participa do Festival de Cinema Infantil de Nova York
O circuito inclui salas tradicionais da cena alternativa, como o IFC Center e o Tribeca Cinemas, e também um espaço pouco aberto ao público, o “cineminha” do Directors Guild of America, o sindicato dos diretores dos EUA, na rua 57.
O júri do festival inclui profissionais do cinema para crianças e jovens, como o diretor francês Michel Ocelot (de quem será exibido o novo longa da série “Kiriku”), mas também nomes de prestígio mais associados ao cinema adulto, como os atores Susan Sarandon, Geena Davis e Matthew Modine, o diretor Gus Van Sant e o produtor e roteirista James Schamus.
Além dos filmes, o festival promove também oficinas para crianças e adolescentes. Os participantes — que podem ter de 6 a 16 anos — aprendem técnicas para a realização de curtas de animação e com atores, desde o roteiro e o “story board” (o desenho prévio de cada cena) até a criação de bonecos e a interpretação para a câmera.
O site do festival reúne também uma série de filmes já exibidos em outros anos e que podem ser vistos pela internet, todos com a classificação indicativa. Clique aqui para navegar por esse pequeno canal de preciosidades.
A seguir, só para dar água na boca, dois vídeos com atrações francesas da programação.
O primeiro é um trecho de “Ernest & Celestine”, de Stéphane Aubier, Vincent Patar e Benjamin Renner, que participou da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2012 e foi exibido na sessão de abertura do Festival de Cinema Infantil de Nova York.
O segundo é um trecho de “Le Tableau”, de Jean-François Laguionie, cuja estreia mundial será agora em Nova York.
A Folhinha deste sábado traz reportagem sobre crianças brasileiras que estão aprendendo mandarim. Algumas delas têm aulas nos colégios onde estudam; outras cursam escolas de idiomas.
Não é fácil aprender mandarim — nem mesmo para crianças chinesas, muitas delas obrigadas a estudar em condições precárias.
Wei Minzhi, a menina-professora de “Nenhum a Menos”, que se desdobra para impedir que seus alunos abandonem a escola
Essa realidade é ilustrada pelo longa-metragem “Nenhum a Menos” (1999), que se inspirou em fatos verídicos para contar a história de uma menina de 13 anos que substitui o experiente professor de um vilarejo.
Insatisfeita com o salário oferecido, ela pede mais. O professor propõe lhe dar um bônus, desde que, ao voltar, ele constate que nenhum aluno abandonou a sala de aula — a evasão é um sério problema do sistema escolar chinês.
Começa então uma aventura que costuma ser inspiradora para todos os que trabalham com educação. Já estive em diversos debates sobre o filme com a participação de professores, e a reação média sempre foi muito positiva.
Ao ser lançado nos cinemas do Brasil, depois de obter o Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza e o prêmio do público na Mostra Internacional de São Paulo, “Nenhum a Menos” ganhou classificação indicativa 12 anos.
Mais tarde, para exibição na TV, a classificação virou livre. É uma ótima oportunidade para que as crianças conheçam uma realidade muito distante da nossa por meio da identificação com os personagens infantis e do relacionamento de toda a turma com a nova professora, quase da idade deles.
Disponível em DVD, “Nenhum a Menos” será exibido na próxima sexta-feira, dia 8, às 8h20, pelo canal pago Max.
O diretor de “Nenhum a Menos”, Zhang Yimou, 61 anos, é um dos cineastas chineses de maior prestígio em todo o mundo. “Sorgo Vermelho” (1987), “Lanternas Vermelhas” (1991), “A História de Qiu Ju” (1992) e “Herói” (2002) estão entre seus principais filmes.
Yimou foi também o responsável pela direção do espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 8 de agosto de 2008. Abaixo, o texto que escrevi na ocasião, publicado no dia seguinte pelo caderno Esporte da Folha:
Cerimônia merece o 1º ouro olímpico
Mais hollywoodiana do que a própria Hollywood, festa de abertura extrapola os limites da imaginação do cineasta Zhang Yimou
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim conhecia o terreno onde pisava quando anunciou, em abril de 2006, que o cineasta Zhang Yimou, 56, seria o diretor-geral das cerimônias de abertura e encerramento do evento.
Filmes de ação como “Herói” (2002), “O Clã das Adagas Voadoras” (2004) e “A Maldição da Flor Dourada” (2006), em que os personagens revogam a lei da gravidade, sugeriam que nem mesmo o céu seria limite para a imaginação de Yimou.
A escolha também levou em conta a identificação da obra do cineasta com valores históricos chineses. Além disso, ele é um mestre da luz e da cor, como demonstram “Sorgo Vermelho” (1987) e “Lanternas Vermelhas” (1991), entre outros.
Flagrante da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008, coordenada por Zhang Yimou, diretor de “Nenhum a Menos”
Esse perfil o transformou em coordenador ideal (ou “comandante-em-chefe”) de uma vasta equipe de colaboradores, que inclui entre seus generais o coreógrafo Zhang Jigang e o compositor Chen Qigang, e da qual Steven Spielberg foi consultor.
A parte inicial da cerimônia de abertura foi concebida como um longa-metragem dividido em grandes seqüências, todas baseadas, como em um épico de ação, no conceito de integrar muita gente a muita tecnologia e movimento quase incessante.
Até a fase neorrealista de Yimou, de “Nenhum a Menos” e “O Caminho para Casa”, ambos de 1999, gerou ecos em momentos mais minimalistas da cerimônia, como os que envolveram crianças e fotos de sorrisos captados mundo afora.
A tônica dominante, no entanto, foi mais hollywoodiana do que a própria Hollywood poderia conceber – e basta lembrar quão opacas se tornaram, na comparação, as aberturas dos Jogos de Los Angeles, em 1984, e de Atlanta, em 1996.
Embora tenha sido oficialmente nomeado há pouco mais de dois anos, Yimou teve ao menos quatro anos para pensar no que vimos ontem. Ele já havia produzido oito minutos para a cerimônia de encerramento dos Jogos de Atenas e, desde então, estava engajado no projeto olímpico chinês.
Como um dedicado embaixador, realizou vídeos promocionais e divulgou o evento em diversos países. Foi também figura-chave na escolha das cinco propostas finalistas, selecionadas entre as 409 inscritas, para os shows de abertura e encerramento do evento esportivo.
Yimou havia dito que seu objetivo era conduzir a cerimônia de ontem em direção a um “momento inesquecível” – supostamente, o da tocha olímpica. Nesse aspecto, “fracassou”: o espetáculo gerou diversos outros picos, com imagens igualmente belíssimas.
O presidente do comitê organizador, Liu Qi, acreditava que o sucesso dos Jogos dependeria em boa medida da qualidade da cerimônia de abertura. Pois entregue-se uma medalha de ouro simbólica à equipe de Yimou, e aguardemos os novos recordes.
Inauguro hoje mais uma seção regular do blog: Pais e Filhos, com depoimentos sobre a paixão pelo cinema aproximando gerações.
Se tiver histórias de sua família para contar e quiser dividi-las com os leitores, fique à vontade para me escrever.
Começo com o depoimento de Luciano Guimarães, 36 anos, que mora em São Paulo. Ele é pai de Lorenzo, 7 anos, que está na 3a. série do ensino fundamental, e de Lola, 4 anos, que está no 5o. ano da educação infantil:
Luciano, com os filhos Lorenzo e Lola, e a coleção de bonecos das crianças: só personagens de cinema
Tive o privilégio de nascer e crescer em Santos, que sempre teve uma grande tradição de cinemas de rua. Como eu me lembro de quase todos os filmes que meu pai me levou para ver com ele, sempre tentei influenciar o Lorenzo a gostar de cinema. É meu programa preferido, e consegui fazer com que seja o dele também.
A segunda parte da influência positiva foi tentar fazer o meu filho reviver momentos inesquecíveis que eu tive com meu pai e tentar fazer das minhas lembranças da infância uma lembrança para ele também.
Depois de ter visto mais de mil vezes todos os filmes da Pixar, da Dreamworks etc., decidi recorrer à minha memória afetiva e relembrar filmes que ficaram na minha imaginação.
O primeiro que apresentei ao meu filho foi “História sem Fim” (1984). Foi impressionante ver que, apesar de não ter nenhum efeito especial muito mirabolante, a emoção foi a mesma. Depois vieram “Os Goonies” (1985), “Karatê Kid” (1984), “O Cristal Encantado” (1982) e outros.
Darth Vader em uma conversinha com a princesa Leia (Carrie Fisher) no episódio IV de “Star Wars”
O mais difícil para mim foi escolher como apresentar a ele um dos meus preferidos, a série “Star Wars”. Depois de muito pensar, preferi introduzi-lo a esse mundo da mesma forma que eu o conheci.
Comecei pelo Episódio IV [o primeiro longa-metragem, de 1977] e logo de cara ele se apaixonou. Hoje, vemos juntos reprises de “Star Wars” com muita pipoca. É engraçado ver um filme, depois de décadas, ainda encantar uma criança de 7 anos. A mochila e os estojos do Lorenzo são do Darth Vader.
O mais impressionante é que, no período de uma hora, meu filho é capaz de jogar vinte jogos diferentes no iPad e não ficar parado para nada. Mas, quando eu coloco um filme bom, ele fica comigo até acabar. Isso é prova de que filmes infantis não precisam ser feitos por computadores, nem ter muitos efeitos especiais. Quando são bons, transcendem a idade e são imortais.
Hoje, meu filho decora as datas de lançamento dos filmes nos trailers e me cobra para levá-lo no dia da estréia. Nesta semana ele foi ver “O Reino Gelado” e já está esperando “Oz – Mágico e Poderoso”. Todo mundo que sai com ele para passear sempre inclui um cineminha.
Com a Lola foi a mesma coisa, só que mais cedo. Por ser a irmã mais nova, tinha que acompanhar o irmão nos passeios dele. Com isso, acabou indo ao cinema desde bebezinha (e não dormia, assistia ao filme).
Em casa, a programação que eles mais adoram a gente chama de “sessão”. Eu escolho um “filme-surpresa”, estouro uma pipoca e é diversão (sem bagunça) por uma hora e meia.
Uma das primeiras palavras que a Lola aprendeu foi “Potter”, por causa de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (2001), que o Lorenzo ficava vendo o dia todo!
O legal é notar que eles aceitam programas de qualidade. É só oferecer. Em alguns horários de manhã, troquei desenhos na TV bem bobos por alguns documentários da HBO ou do National Geographic, que falam de natureza, e eles adoram.
O importante é dedicar tempo para eles, porque eles aprendem a gostar de cinema observando a gente. Então, não adianta colocar um filme e fazer outra coisa. Para que as crianças gostem de filmes, temos que assistir juntos, mesmo que 30 vezes, o mesmo filme.
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Por falar em “Star Wars”, a edição de março da revista norte-americana “Wired” publica reportagem de capa sobre o retorno da saga criada por George Lucas, agora sob o manto da Disney, que comprou a Lucasfilm.
O primeiro longa da nova série, o Episódio VII, está previsto para 2015.
Os clássicos em animação da Disney povoam as memórias de inúmeros espectadores que foram crianças nos últimos 70 anos. O jornalista Rubem Barros faz parte dessa turma.
Diretor editorial da Editora Segmento, que publica as revistas “Educação”, “Escola Pública” e “Língua Portuguesa”, e mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ele recorda no depoimento a seguir cenas de sua infância que foram protagonizadas por um dos mais populares personagens da Disney: Mogli, o Menino Lobo.
Vamos ao relato de Rubem:
“Mogli, o Menino Lobo”: clássico da Disney está completando 46 anos
Não sei muito bem o que é lembrança de época, ou o que é “memória inventada” ao longo do tempo. Mas “Mogli, o Menino Lobo” (The Jungle Book, 1967), lançado no Brasil no final de 1968, foi, sem dúvida, o primeiro filme que marcou minha infância. Dirigido por Wolfgang Reitherman, foi o último filme a ser produzido por Walt Disney, que não o viu finalizado, morrendo meses antes do lançamento. É baseado no livro de mesmo nome de Rudyard Kipling (1865-1936), autor britânico nascido em Bombaim, Índia.
Eu assisti a ele logo após seu lançamento, numa das antigas salas do Iguatemi, o primeiro shopping center brasileiro, inaugurado em 1966. Lembro dos largos corredores laterais da sala, onde circulavam freneticamente algumas crianças, entre as quais os primos e primas com quem fui ao filme, sob o olhar de minha mãe e uma tia.
Mas esse tumulto incômodo se apagou com as primeiras cenas. O mundo escuro e aparentemente inóspito se tornava minuto a minuto mais colorido e atraente na mescla das sensações de medo e desejo de aventura. A música alegre e cheia de suingue e metais das canções dos irmãos Richard e Robert Sherman, em especial aquelas das cenas do urso Balu e do rei dos macacos, Louis, provocou uma adesão total ao filme.
O clima anárquico catalisado na figura de Balu – fanfarrão, destemido e amoroso – fez com que um menino introspectivo, meio tímido, criasse uma grande identificação com aquela vida aventureira e maluca, fora dos limites da civilização. Tanto que até hoje não me conformo muito com o final…
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Assista ao trailer da cópia restaurada de “Mogli”, lançada em DVD quando o filme completou 40 anos, em 2007:
É curioso notar como esses dois filmes respeitam algumas soluções consagradas pela animação dos EUA para estabelecer pontes em direção ao público infantil, como a presença de animais ao lado dos protagonistas. Não se trata apenas de um penduricalho; muitas vezes, a história caminha graças à ação dessas figuras — algumas falantes, outras não.
Cada um desses filmes oferece, no entanto, características muito particulares, na paisagem da história — “Tadeo” nos leva à cultura inca do Peru, enquanto “O Reino Gelado” imagina um planeta condenado ao frio eterno — e no desenvolvimento dos personagens.
A história de “Tadeo” é uma paródia às aventuras do arqueólogo Indiana Jones, herói interpretado por Harrison Ford nos filmes dirigidos por Steven Spielberg e produzidos por George Lucas.
Capa de uma edição especial de “A Rainha da Neve”, de Hans Christian Andersen, publicada nos EUA
Já o argumento de “O Reino Gelado” vem de um conto escrito pelo dinamarquês Hans-Christian Andersen (1805-1875), que empresta hoje seu nome ao mais importante prêmio da literatura infanto-juvenil (já conquistado pelas brasileiras Lygia Bojunga Nunes, em 1982, e Ana Maria Machado, em 2000).
A vilã de “O Reino Gelado” é a Rainha da Neve (o título internacional do filme em inglês, “The Snow Queen”, respeita o nome do conto). Por causa de seus caprichos, a Terra vive sob gelo. A única ameaça ao seu poder vem de um espelho mágico criado por Vegard, um mestre-vidreiro — que já foi devidamente congelado, em companhia de sua mulher.
O problema inicial, para a Rainha, é que Vegard deixou um herdeiro, e ele estaria com o tal espelho. Logo, é preciso localizá-lo e também congelá-lo. Com a ajuda de seu próprio espelho mágico, parecido com o da madrasta de “Branca de Neve”, a Rainha ordena que um troll atrapalhado vá em busca do menino, e aí começa a aventura.
Novo problema: Kai, o filho de Vegard, descobre que tem uma irmã, Gerda. E Gerda, embora seja um doce, é dura na queda, como descobrirá o troll, primeiro, e depois a própria Rainha — que, por sua vez, guarda um segredo a ser descoberto apenas no final da história.
Além do troll, que passa por metamorfoses, o elenco animal tem o reforço do ferret de Gerda. Como a dona, ele parece dócil e inofensivo, mas é melhor não provocar o bicho.
Bem costurada, com elementos mágicos que se integram à ação sem atropelos ou forçadas de barra, a trama de “O Reino Gelado” pode ser, para muitas crianças, uma sedutora porta de entrada ao universo de Andersen — que é bem diferente daquele de “A Era do Gelo”, por falar em frio, ou daquele de “Madagascar”, por falar em animais.
Cartaz de “Sheep’n’Wolves”, próximo longa da produtora russa Wizart
Para o cinema de animação brasileiro, “O Reino Gelado” pode ser também uma inspiração. O impressionante aspecto visual do filme é obra da produtora russa Wizart, fundada em 2007, informa o seu site oficial em inglês, por profissionais vindos da indústria de games e da área de tecnologia da informação.
O próximo projeto da Wizart, previsto para estrear em 2014, é “Sheep’n’Wolves”, sobre um lobo que um dia se vê transformado em uma ovelha, e então passa a observar o mundo de outra perspectiva.
Promete, não?
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A distribuidora Playarte distribuiu à imprensa o seguinte depoimento do codiretor Maxim Sveshnikov sobre a sua participação em “O Reino Gelado”:
“Quando eu comecei a escrever o roteiro, eu não podia nem imaginar que seria o diretor. Inicialmente, eu entrei no projeto como roteirista. A cada dia em que eu mergulhava no texto e ia digitando ferozmente no teclado, mais detalhes e elementos inspiradores tomavam conta da minha cabeça. Personagens ganharam vida e foram pintados com novas cores, enquanto detalhes da história e diálogos divertidos emergiram. A atmosfera desse universo fantástico, com sua magia e seus segredos, me cativou. E quando trabalhamos no primeiro conceito desse mundo congelado, mantido aprisionado pela terrível Rainha da Neve, eu literalmente imaginei Gerda no meio desses campos cobertos de neve. E foi aí que entendi que esta seria uma história que eu mesmo poderia tornar real. Queria tanto compartilhar esta jornada tocante na tela com o maior número possível de espectadores que acabei convencendo os produtores a me aceitarem como diretor. Quanto mais difícil é o projeto no começo, mais interessante vai ficar a história que você pode criar no fim.”
A Folhinha deste sábado, dia 23, homenageia os 50 anos da Mônica, que nasceu oficialmente em uma tira da Ilustrada, em 3 de março de 1963, mas que já havia aparecido um pouco antes no jornal.
Mauricio de Sousa, o criador da Mônica, participará neste sábado da “Roda da Folhinha”. O encontro está marcado para 16h, no auditório do MAM (Parque Ibirapuera), em São Paulo.
Mônica e Mauricio dispensam apresentações. A primeira é uma das personagens mais populares da cultura infanto-juvenil brasileira; o segundo, um cartunista-empreendedor de talento inquestionável.
Mônica, 50, e sua turma: ainda falta ocupar maior espaço no cinema e na TV
A pergunta que não quer calar: por que Mônica e sua turma não foram capazes, no cinema e na TV, de repetir o sucesso dos quadrinhos?
“Aventuras da Turma da Mônica”, lançado em dezembro de 1982, teve 1.172.020 espectadores e ocupa a modestíssima posição 166 no ranking de filmes brasileiros mais vistos no período 1970-2011.
“A Turma da Mônica em A Princesa e o Robô”, lançado em janeiro de 1984, atraiu 616.457 espectadores e está na posição 353 do mesmo ranking.
“Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo”, lançado em fevereiro de 2007, teve público de 531.656 pessoas e chegou à posição 413 no ranking.
“As Novas Aventuras da Turma da Mônica” (1986) e “Mônica e a Sereia do Rio” (1987) — codirigido por Mauricio e por Walter Hugo Khouri, com a cantora Tetê Espíndola — não figuram no ranking por terem público inferior a 500 mil espectadores.
Para comparar infantil brasileiro com infantil brasileiro:
– “Os Trapalhões na Serra Pelada”, lançado em dezembro de 1982, junto com “Aventuras da Turma da Mônica”, teve 5.043.350 espectadores e ocupa a posição 10 no ranking.
– “O Trapalhão na Arca de Noé”, lançado em dezembro de 1983, pouco antes de “A Turma da Mônica em A Princesa e o Robô”, fez público de 2.181.017 e está na posição 77 do ranking.
Resultado da comparação, usando apenas esses quatro filmes que estrearam no mesmo período e disputaram o mesmo público: Trapalhões, 7,2 milhões de espectadores; Turma da Mônica, 1,8 milhão.
Além da obviedade de que os Trapalhões eram mais populares do que a Mônica, por conta da presença na TV e de um histórico consolidado de filmes para cinema, esses números demonstram como a animação brasileira teve (e ainda tem) sérias dificuldades para ocupar espaço no mercado doméstico, sob controle de superproduções norte-americanas, em especial.
“(…) Chegou a década de 80 e a invasão dos desenhos animados japoneses.
Mauricio ainda não tinha desenhos para televisão. E perdeu mercados.
Resolveu enfrentar o desafio e abriu um estúdio de animação a Black & White com mais de 70 artistas realizando 8 longas-metragens. Estava se preparando para a volta aos mercados perdidos, mas não contava com as dificuldades políticas e econômicas do país. A inflação impedia projetos a longo prazo (como têm que ser as produções de filmes sofisticados como as animações), a bilheteria sem controle dos cinemas que fazia evaporar quase 100% da receita, e o pior: a lei de reserva de mercado da informática, que nos impedia o acesso à tecnologia de ponta necessária para a animação moderna.
Mauricio, então, parou com o desenho animado e concentrou-se somente nas histórias em quadrinhos e seu merchandising, até que a situação se normalizasse. O que está ocorrendo agora.”
A frase “está ocorrendo agora” se refere, principalmente, a um acordo de coprodução entre o Cartoon Network e a Mauricio de Sousa Produções, firmado em 2011 com o objetivo de realizar episódios com a Turma da Mônica para veiculação na TV. Os primeiros foram ao ar em setembro de 2012.
É sempre hora de recuperar o tempo perdido. Mas, se a Turma da Mônica ainda não foi capaz de encontrar o espaço que merece nos cinemas e na TV, imagine como sofrem os autores de personagens de animação com menor popularidade ou que são desconhecidos do público porque não vêm dos quadrinhos ou da literatura.
“Oz – Mágico e Poderoso” será lançado no Brasil em 8 de março, mas já é possível sentir um gostinho dessa nova versão do universo criado pelo escritor norte-americano L. Frank Baum (1856-1919) com uma exposição sobre o filme, aberta nesta sexta-feira, dia 22, no shopping JK Iguatemi, em São Paulo.
James Franco e Michelle Williams em “Oz – Mágico e Poderoso”
Além de paineis fotográficos com cenas do filme, estarão expostos vestidos usados nas filmagens pelas atrizes que interpretam as bruxas Glinda, Evanora e Theodora — Michelle Williams (“Namorados para Sempre”, “Sete Dias com Marilyn”), Rachel Weisz (“O Jardineiro Fiel”, “O Legado Bourne”) e Mila Kunis (“Cisne Negro”, “Ted”), respectivamente.
Alguns objetos de cena também fazem parte da exposição, como a caixinha de música usada pelo personagem-título (James Franco, de “127 Horas”). O diretor de “Oz – Mágico e Poderoso” é Sam Raimi, que trabalhou com Franco na série “Homem-Aranha”.
A versão mais popular da obra de Baum é “O Mágico de Oz” (1939), com Judy Garland. Muito menos conhecida, mas curiosa, é uma adaptação estrelada por Michael Jackson e Diana Ross, “O Mágico Inesquecível” (1978).
Assista ao trailer de “Oz – Mágico e Poderoso”, que promete ser bem mais sombrio do que as versões anteriores:
A Academia de Cinema Espanhol promoveu no último domingo, dia 17, a cerimônia de entrega do 27o. Goya, equivalente aos melhores de 2012. Dos 18 prêmios em disputa, nada menos do que 10 foram para o longa-metragem “Blancanieves”, que ambienta na década de 1920 uma releitura da história clássica recontada pelos irmãos Grimm sobre a doce jovem que sofre nas mãos da madrasta.
Maribel Verdú, a madrasta de “Blancanieves”. Precisa dizer que ela é má?
Em preto-e-branco e sem diálogos, como o francês “O Artista” (2011), essa original versão espanhola recebeu o Goya de melhor filme, atriz (Maribel Verdú, do mexicano “E Sua Mãe Também”, no papel da madrasta), roteiro original (escrito pelo diretor basco Pablo Berger, de “Da Cama para a Fama”), trilha sonora, canção, atriz revelação (Macarena García, que interpreta Carmen, a Branca de Neve), fotografia, direção de arte, figurino e maquiagem.
“As Aventuras de Tadeo”, em cartaz no Brasil, ficou com o Goya de melhor animação, diretor estreante (Enrique Gato, que conversou com o blog — clique aqui para ler a entrevista) e roteiro adaptado.
“Blancanieves” será lançado no Brasil pela distribuidora Imovision, que ainda não definiu a data, muito menos obteve a classificação indicativa. Nos EUA, onde o filme vai estrear em 29 de março, a classificação foi PG-13, que costuma ser equivalente a 12 anos no Brasil.
Abaixo, o trailer de “Blancanieves” (que sugere uma classificação 10 anos):
A Folhinha do último sábado publicou reportagem assinada por Bruno Molinero sobre o que crianças pensam da renúncia de Bento 16. Alguns dos entrevistados não sabem direito o que faz um papa, e qual o seu significado ou importância. Clique aqui para ler o texto.
Katheleyn Keys no curta “Carnaval dos Deuses”
Se o assunto é a visão infantil das religiões, recomendo com entusiasmo o curta-metragem “Carnaval dos Deuses” (2010).
Dirigido por Tata Amaral (“Um Céu de Estrelas”, “Antonia”) e escrito por Caru Alves de Souza (filha de Tata) e Teodoro Poppovic, o curta acompanha um grupo de crianças na escola, durante os preparativos para uma festa de Carnaval.
Ana (interpretada por Katheleyn Keys, na foto ao lado) diz que não quer participar, e então começa o melhor do filme: diálogos divertidos que expõem a percepção infantil sobre o universo das religiões.
Chamo a sua atenção para duas informações da reportagem:
(1) Em 2012, quatro longas-metragens de animação figuraram entre as dez maiores bilheterias nacionais do ano no Brasil: “A Era do Gelo 4”, “Madagascar 3: Os Procurados”, “Alvin e os Esquilos 3” e “Valente”. Juntos, eles venderam 22,6 milhões de ingressos, ou cerca de 15,5% do total (146 milhões de ingressos).
O volume é superior à soma de todos os filmes brasileiros lançados em 2012 (15,5 milhões de ingressos, ou 10,6%). O longa nacional para crianças que mais arrecadou foi “31 Minutos – O Filme”, com 56,6 mil espectadores.
(2) O Grupo Técnico de Assessoramento de Elaboração da Política Pública de Audiovisual para a Infância, subordinado à Secretaria do Audiovisual (SAv) do Ministério da Cultura, se reuniu pela última vez em agosto de 2011. Isso mesmo: agosto de 2011.