Censura Livrechaplin – Censura Livre http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br por Sérgio Rizzo Mon, 02 Dec 2013 08:57:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mestres da comédia na sessão Cinepiano http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/10/30/mestres-da-comedia-na-sessao-cinepiano/#comments Wed, 30 Oct 2013 14:40:33 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=996 Continue lendo →]]>

“Vida de Cachorro”, na sessão Cinepiano

Tem melhor programa cultural para famílias do que os pais apresentarem aos filhos algo que na infância foi importante para eles também?

Comédias clássicas, por exemplo.

Elas funcionavam décadas atrás, com crianças e adultos, e continuam funcionando hoje, ao oferecer uma inocência que parece encantadora perto do atual padrão médio de humor, na TV e no próprio cinema, e ao se apoiar em piadas visuais.

Para quem concorda com o raciocínio, sugiro um programão: a sessão Cinepiano, criada pelo compositor e produtor musical Tony Berchmans. Em novembro, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agendou quatro apresentações.

Autor do livro “A Música do Filme – Tudo o que Você Gostaria de Saber sobre a Música de Cinema” (2006), Berchmans diz que teve a ideia de organizar a sessão em 2008, ao ver o pianista norte-americano Bob Mitchell (1912-2009) fazer o acompanhamento ao vivo de filmes silenciosos em um cinema de Los Angeles.

A sessão Cinepiano promove a mesma viagem no tempo: assistir a um filme como nossos avós, bisavós ou tataravós faziam. Na tela, as imagens. O som vem de um piano instalado na sala.

Em novembro, a seleção de Berchmans vai reunir Charles Chaplin (“Vida de Cachorro”, 1918), Buster Keaton (“Cops”, 1922) e a dupla Stan Laurel & Oliver Hardy, o Gordo e o Magro (“Um Grande Negócio”, 1929).

O calendário de apresentações, sempre gratuitas:

3/11, domingo, às 18h – Galeria Olido

7/11, quinta-feira, 20h – Centro Cultural da Penha

16/11, sábado, às 21h – Teatro Décio de Almeida Prado

23/11, sábado, às 19h – Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes

Na janela abaixo, só para aquecer e dar água na boca, Laurel e Hardy em “Um Grande Negócio”.

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Cenas de infância: Marina Person e a magia do super-8 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/08/05/cenas-de-infancia-marina-person-e-a-magia-do-super-8/#respond Mon, 05 Aug 2013 14:21:12 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=736 Continue lendo →]]>

Stan Laurel e Oliver Hardy, o Magro e o Gordo

Para diversas gerações, a magia do cinema foi apresentada em casa por sessões de filmes em super-8. O cardápio eram curtas e trechos ou versões condensadas de longas, como lembra a cineasta Marina Person no depoimento abaixo.

Filha do diretor Luiz Sérgio Person (“São Paulo S/A”, “O Caso dos Irmãos Naves”), a quem homenageou com o afetuoso documentário “Person” (2007), ela conta como foi que descobriu, anos depois, que havia mais filme por trás daqueles pequenos (e inesquecíveis, como se percebe) rompantes de cinema.

Vamos ao relato de Marina:

Eu fui criança numa época em que não existia videocassete, DVD, imagine Netflix. Nada de Telecine, Canal Brasil, ou HBO… Na verdade, até os 7 anos, nem TV em casa eu tinha. Bem, isso a tecnologia já permitia, mas a minha escola não. Esclareço: eu estudei na Waldorf, a escola antroposófica, em meados dos anos 1970, e a regra era clara: televisão, açúcar branco e comida industrializada, nem pensar!

É, não tinha TV. Em compensação, o que tínhamos eram pequeninos rolos de filmes super-8 que meus pais projetavam com o maior orgulho do mundo. Eram trechos pequenos de filmes como “Mary Poppins”, “Alice no País das Maravilhas”, “O Gordo e o Magro”, Charlie Chaplin…

Julie Andrews em “Mary Poppins” (1964)

O super -8 tem rolos de tamanhos limitados e uma lâmpada muito sensível, que queima por nada. As dificuldades que vinham com todo o charme daquelas projeções me fizeram valorizar muito aqueles momentos. Era tanta coisa que tinha que dar certo! A lâmpada não podia estar queimada, os rolinhos não podiam descarrilhar, a luz elétrica não podia faltar.

Luz elétrica? Ah, sim, me esqueci de contar esse detalhe: quando eu e minha irmã nascemos, meus pais concretizaram o sonho de viver no campo, perto da natureza, e nós nos mudamos para um sítio em Itapecerica da Serra, a 40 quilômetros de São Paulo. Lá moramos até meus 11 anos. E nesse nosso pequeno paraíso a luz elétrica era um luxo que muitas vezes nos faltava. Era uma chuva aqui, um poste que o vento derrubou ali, uma sobrecarga no vizinho… Enfim, não foram poucas as noites em que dormimos sem eletricidade na casa.

Bem, onde eu estava mesmo? Ah, nos filminhos… Pois é, foi só quando cresci e o videocassette apareceu que descobri que aqueles trechos de super-8 tinham um começo e um fim! Na minha cabeça de criança, os filmes eram aquilo ali e pronto. Confesso que achava um pouco estranho, mas gostava de todo jeito. E gosto até hoje.

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Cenas de infância: Cristiano Burlan, Oliver Twist e o ratinho Fievel http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/09/cenas-de-infancia-cristiano-burlan-oliver-twist-e-o-ratinho-fievel/ http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/05/09/cenas-de-infancia-cristiano-burlan-oliver-twist-e-o-ratinho-fievel/#respond Thu, 09 May 2013 10:00:43 +0000 http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/?p=516 Continue lendo →]]> Os relatos da série Cenas de Infância, que venho recolhendo no blog, tratam em geral da primeira experiência de ir ao cinema. Um ou outro convidado se lembra, como ocorreu com Christian Petermann, de alguma sessão posterior.

É o caso também do cineasta e professor Cristiano Burlan, que conheceu o cinema em Porto Alegre, mas que viveu a primeira sessão inesquecível já em São Paulo, aos 11 anos.

Burlan ganhou, em abril, o prêmio de melhor longa-metragem brasileiro do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários com seu trabalho mais recente, “Mataram Meu Irmão”, que trabalha com memórias pessoais.

A seguir, Burlan fala sobre a importância de um ratinho russo em sua vida e em sua trajetória profissional.

“Fievel, Um Conto Americano” (1986), produção da Amblin de Steven Spielberg em parceria com a Universal

A primeira lembrança que tenho do cinema é muito antiga, ainda remete à minha infância em Porto Alegre sendo levado pela minha mãe e pelo meu pai para ver os filmes dos Trapalhões no Cine Leão. Um cinema à moda antiga, com colunas neoclássicas e o cheiro de pipoca impregnado no ar. Mas, naquele momento, ainda não tinha passado por uma experiência catártica.

A primeira grande emoção que tive dentro de uma sala de cinema foi aos 11 anos de idade, já morando em São Paulo.

Em 1985, mudamos de Porto Alegre para cá. Logo que chegamos fomos morar num bairro muito pobre em Osasco, chamado Olaria do Nino. Meu pai trabalhava como pedreiro, minha mãe era empregada doméstica. Casa muito simples e pequena, e o dinheiro sempre muito curto.

Um dia acordei e pedi à minha mãe dinheiro para ir ao cinema, mas disse para ela que gostaria muito de ir sozinho pela primeira vez. Ela me falou que não tinha o dinheiro naquele momento, mas que iria juntar e que no final do mês me daria. Aguardei ansiosamente.

Naquela época estava lendo um livro que me marcou profundamente, “Oliver Twist”, de Charles Dickens, cujo protagonista é um órfão. Um dos temas do romance é a delinquência provocada pelas condições precárias da sociedade inglesa na era vitoriana, no século 19.

E o filme que escolhi assistir foi “Fievel, Um Conto Americano” (An American Tail, 1986). Saí de Osasco sozinho, de ônibus, e fui até o Shopping Eldorado, em Pinheiros. Tinha 11 anos de idade na época e o ano era 1986. Lembro que, quando cheguei na bilheteria, todas as crianças estavam acompanhadas dos seus pais, o que me deixou um pouco triste. Mas não me abati, porque estava tomado por uma sensação incrível de liberdade. Estava me sentindo um adulto indo sozinho ao cinema.

Minha mãe tinha me dado o dinheiro certinho para a passagem, o ingresso, pipoca, refrigerante e um drops Dulcora.

Havia chegado o grande momento. Entrei na sala, as luzes se apagaram e a projeção começou. Nunca vou esquecer a sensação dúbia de medo por estar só e, ao mesmo tempo, de ter descoberto o lugar mais seguro do mundo para se estar durante a vida.

“Fievel, Um Conto Americano” se passa na Rússia, em 1885, quando a família de ratos russo-judaica Ratoskewitz decide imigrar para os EUA, à procura de uma vida melhor. Fartos dos ataques dos gatos, os Ratoskewitzes acreditam que seus predadores não existem no “novo mundo”. Durante a viagem de navio, o pequeno Fievel é levado por uma tempestade, sendo separado da família. Ao chegarem, acreditam que perderam Fievel para sempre.

Mas ele também consegue chegar a Nova York, dentro de uma garrafa, e é ajudado por um pombo francês chamado Henri. O pequeno ratinho parte em busca da sua família, e logo começa a descobrir a dura realidade desse “novo mundo”, onde afinal também existem gatos.

A impressão que tenho até hoje dessa experiência é que tudo o que passei pela minha vida e o que me tornei tem a ver um pouco com esses dois personagens, com Oliver Twist e com o ratinho Fievel. Passei mais tempo da minha vida dentro de uma sala de cinema do que fora dela e tenho uma certa resistência a perceber o mundo por um prisma da realidade. E, sempre que volto a esse momento catártico e epifânico da minha vida, me lembro de uma frase de Chaplin: “Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”.

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