Olivia Newton-John e John Travolta em “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”
O blog retoma a série “Cenas de Infância” com um depoimento caprichado de quem resolveu investigar para valer o baú das memórias: Maísa Zakzuk, diretora de TV e autora de livros infantojuvenis.
Seu extenso currículo na televisão inclui um clássico dos anos 1990: “X- Tudo” — que, lembra Maísa no texto abaixo, nasceu de um programa que ela via na infância (e eu também), o “Globinho”.
Além de falar sobre a importância de filmes e programas musicais na sua formação, ela diz algo que vale para todos nós: somos o que lembramos.
Vamos ao depoimento de Maísa:
“Acho que não tem nada da televisão e do cinema que tenha marcado tanto a minha infância ou a minha juventude”, pensei ao ser convidada para escrever sobre este tema pelo jornalista e amigo Sérgio Rizzo.
Enrolei muito para começar a rabiscar sobre o assunto, mas confesso que fiquei feliz com a quantidade de lembranças que puxei da cabeça.
Em princípio, queria falar da dificuldade que tenho em resgatar momentos da TV da época em que eu tinha nove, dez anos (1977, 1978). Não por falta de memória, mas não sei por qual motivo eu não era uma grande telespectadora-mirim. O que seria de rico repertório para uma radialista como eu!
Muito do material exibido nesta época fui acabar vendo como lição de casa da FAAP, onde cursei Rádio e TV, de 1986 a 1989: desenhos como “Corrida Maluca” e “Pica-Pau”, por exemplo.
Paula Saldanha, apresentadora do “Globinho”
Mas é claro que existia uma vida televisiva em casa. Do que se via, eu me lembro bem do programa “Globinho”, apresentado por Paula Saldanha, que foi fonte de inspiração para eu criar o programa de televisão “X-Tudo”, exibido na TV Cultura (1992-2000).
Dava muitas risadas com o programa “Os Trapalhões”, sonhava em participar do programa “Pulmann Jr.”, me emocionava com os personagens do “Vila Sésamo” e, sim, gostava muito dos seriados americanos: “Os Três Patetas”, “A Feiticeira” e “Jeannie É um Gênio” (que até hoje é minha paixão).
Esse resgate de cenas me fez procurar o que eu assistia com a minha irmã e meu irmão mais velhos. Meu irmão Amauri adorava os seriados “Kojak”, “CHIPs” e “Swat”, e minha irmã Milene adorava “As Panteras”. Tinha até me esquecido que a gente separava o que era programa “de menino” e o que era “de menina”.
Como eu era caçula, absorvi o gosto dos dois.
Do cinema, eu me lembro dos primeiros filmes que vi.
“Marcelino, Pão e Vinho” (1955), um filme triste a que assisti com a minha avó num cinema que se chamava Fiametta, no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Também teve a fase dos filmes dos Trapalhões, a que assistíamos em Santos, nas férias de janeiro, no Cine Indaiá. Desses filmes de férias, me lembro também de ter desistido na última hora de ver “Tubarão” (1975). (Nunca vi até hoje; me desculpe, Spielberg.)
Aí, veio a fase do filme musical “Grease” (1978), com John Travolta e Olivia Newton-John. Minha irmã assistiu sete vezes e eu quatro! Tínhamos o LP e brincávamos em casa, imitando o momento “Tell me more, tell me more”. Eu tocava essa música no piano e ela no violão. É bom ressaltar que onde havia música eu ficava hipnotizada.
Barbara Eden e Larry Hagman em “Jeannie É um Gênio”
Na adolescência, fui me apaixonando por programas musicais. Festivais de música como o da Globo, por exemplo, em que a canção “Escrito nas Estrelas” foi interpretada por Tetê Espíndola. Como eu torcia! Como eu cantava! Como eu me emocionava.
A música falava mais alto sempre. Programas de auditório como “Raul Gil”, “Perdidos na Noite” e “Clube do Bolinha”. Já com 16 anos de idade, tinha a minha banda profissional e a nossa “crooner”, Eneida Laís, se inscreveu no “Clube do Bolinha”, concurso de calouros apresentado por Edson Cury, na TV Bandeirantes. Claro que não perdi a oportunidade e semanalmente acompanhava nossa cantora na disputa.
Comecei a freqüentar a emissora de televisão, os estúdios, e não deu outra: nossa cantora venceu o concurso e eu decidi estudar Rádio e Televisão para “trabalhar com música na TV”.
Já formada, apesar de ter me especializado em programas educativos infantojuvenis, tive a oportunidade de dirigir programas e eventos musicais. Por isso, costumo dizer que sou grata ao Bolinha.
Hoje, sou o que eu assisti, o que eu li mas, também, sou o que eu lembro. Meus irmãos, infelizmente, não estão vivos para me ajudar a recordar esses momentos. Para contar um pouco dessas cenas, fiz perguntas para os meus pais, revi vídeos pelo YouTube, mexi nas minhas próprias lembranças que estavam apenas guardadas, mas não esquecidas.
“Tell me more!”